Lendo relatos de pessoas que sobreviveram a desastres naturais como terremotos e tsunamis, pensei: Eu também sou um sobrevivente: "Sobrevivi a Dona Sônia”.
Dona Sônia, como alguns sabem, é minha mãe, equivalente a duas bombas de Hiroshima somada a um furacão Katrina.
Capítulo 1- Dona Sônia com uma lata de querosene
Quando eu e meus irmãos éramos pequenos, sempre aparecíamos com piolhos, coisa comum em crianças. As pessoas normais usam Neocid, mas a minha mãe resolveu inovar. Um dia como quem está pensando misérias, ela resolveu usar querosene nas nossas cabeças. Meus irmãos estão no Facebook para testemunhar.
Dona Sônia juntou os três filhos pequenos na sala de casa e de posse de um chumaço de algodão deliciou-se a esfregar querosene nos nossos couros cabeludos. E ficou nisso algum tempo acreditando que os piolhos iam morrer intoxicados. Alguns minutos depois nossas cabeças começaram a arder como se houvessem nos posto soda cáustica no couro cabeludo. Gritávamos como loucos correndo pela casa chorando. Minha mãe não percebeu de imediato o que estava acontecendo e só aos poucos reparou que a causa dos gritos era o fato de que ela esfregava querosene nas nossas cabeças como quem lustra um móvel. Não bastava encharcar nossos cabelos com o querosene, ela tinha que esfregar com força o combustível.
Passamos os três um tempão debaixo do chuveiro para amenizar a queimação. Não sei como ela não pensou e acender um fósforo para queimar os piolhos também.
Capítulo 2- Dona Sônia não respeita os médicos
Quando eu era criança tinha um temperamento horrível. Minha mãe me levava em psicólogos para ver o que havia de errado comigo. Um dia encontrei, fuçando nos seus papéis, um relatório de um desses médicos que dizia, entre outras coisas, que eu não poderia ser contrariado. Fiquei feliz como pinto no lixo, pois finalmente eu tinha uma licença médica para ser insuportável.
Um dia que minha mãe não fez uma das minhas vontades eu saquei meu trunfo e disse para ela:
- “Você não pode me contrariar. Eu li o relatório do psicólogo”.
Ela me pegou pelo braço e me encheu de chineladas dizendo: “Que merda de médico vai dizer o que eu posso fazer”.
Pensei na hora que a vida não fazia qualquer sentido pois se ela gastava dinheiro com o médico, por que desobedecia as ordens dele?
Pensei: se nem os médicos ela respeita, estou lascado!
Capítulo 3- Dona Sônia dá uma de cafetina
Como já escrevi neste blog num texto com o título "Sexo ou Benzetacil", quando eu era criança tinha uma doença rara e séria chamada Coreia de Sydenham que causa espasmos e movimentos involuntários e pode mesmo matar. O tratamento consistiu em 5 anos de benzetacil todos os sábados. Mas minha mãe preferiu acreditar no conselho de um médico em quem ela confiava e que disse que eu só ficaria curado quando tivesse minha primeira relação sexual.
Então, já com oito anos de idade, ela começou a maquinar uma forma de conseguir isso. Tudo na surdina, ela contratou a empregada de uma vizinha que tinha transado com todos os filhos da patroa e designou a moça para o trabalho medicinal. Não satisfeita em cafetinar em prol do filho, ainda colocou meu irmão como espião para relatar a ela os progressos da moça que me dava banho e fazia todas as minhas vontades e lá pelos 14 anos as coisas acabaram acontecendo como minha mãe tramara.
Aos 15 eu me curei da doença graças à benzetacil, mas minha mãe jura de pé junto até hoje que quem me curou foi a empregada.
Quando eu tinha em torno de oito anos levei uma queda que quase me matou. Estava no segundo andar da casa dos meus pais e debrucei-me sobre um corrimão enferrujado que se partiu e caí de uma grande altura. Até hoje tenho a cicatriz no lado da testa. Foi brutal o tombo e caí nos pés de minha mãe que estava no quintal no momento. A reação dela foi imediata. Me pegou no colo e me levou pra rua aos gritos. Em vez de tomar um táxi ou me levar ao hospital o que fez?
Ahhhh Dona Sônia tem sempre ideias brilhantes. Ela resolveu que a coisa mais correta a fazer era me entregar ao primeiro desconhecido que passava na porta de casa. Disse para a pessoa: “Toma. Leva no Fórum que é filho do promotor”. E saiu gritando pra dentro de casa esperando que o bom samaritano fosse fazer o que ela disse.
Minha sorte foi que a pessoa a quem ela me entregou não tinha medo de sangue.
Sempre fui uma criança de saúde complicada e minha mãe sempre acreditou em todo tipo de medicina alternativa. Enquanto o tratamento com a empregada contratada não surtia efeito, minha mãe cada semana aprendia uma nova técnica infalível que iam de banhos de folhas malcheirosas a benzedeiras e até homeopatia para curar bactérias que faziam a festa no meu organismo.
Isso sem contar que a culpada das bactérias estarem ali era dela mesma, que se recusava a autorizar a operação das minhas amígdalas e só cedeu quando o médico ameaçou denunciá-la. Ela era daquele tipo de fãs de amígdalas para quem tirar minhas amígdalas era um tipo de amputação, não importava se sua função na minha garganta era entupir meu sangue de estreptococos.
Então ela entrou na onda do espiritismo e me levou pra um centro em que um médium incorporava o espírito de um tal de Zé Arigó ou Dr. Fritz. Não importa o nome porque eram ambos assustadores para uma criança de 11 anos.
Nesse centro eu via todo tipo de “cirurgia espiritual” que consistia no tal médium introduzir colheres nos olhos, bocas e narizes das pessoas e “abrir a barriga” dos crédulos pacientes com facas e canivetes. Tinha sangue ou algo que o valha pra todo lado e supostamente pedaços de tumores extirpados na pia do banheiro onde descansavam os “instrumentos cirúrgicos” usados, entre chumaços de algodão ensanguentados.
Ela anunciou toda orgulhosa que eu ia ser operado espiritualmente. Já me imaginei deitado ali com o tal Zé Arigó (que nome assustador) ou Dr. Fritz (parece nome de médico nazista), mas minha mãe tinha planos mais macabros. A tal cirurgia não seria no centro, mas na nossa própria casa. No dia marcado, eu deveria dormir sozinho em um quarto escuro com um pijama branco novo (não sei por que tinha que ser branco ou novo) e uma garrafa cheia de água da bica (não servia água da torneira?). O tal espírito ia vir exatamente à meia-noite para me operar.
Agora imagine o terror dessa criança tendo que dormir sozinha num quarto escuro esperando dar meia-noite para um espírito com um desses nomes tétricos chegar e me meter a faca. Pelo menos era uma faca espírita e não deixou cicatrizes visíveis.
Tenho uma cicatriz invisível em algum lugar.
Quando morávamos no interior nos anos 70, minha mãe era amiga de uma bichinha, um advogado de 1 metro e meio de altura extremamente afetado. Na casa desse homem, se reunia a nata gay da cidade. Era um povo muito alegre e animado que dava muitas festas principalmente no Carnaval para onde minha mãe levava a mim e meu irmão e passávamos horas dançando e pulando. Não sei o que minha mãe via de interessante em estar no meio de um monte de gays, pois ela era a única mulher no grupo. E ainda levava os filhos pequenos. Eu tinha de 11 a 12 anos e meu irmão é um ano mais novo.
Certo dia, no meio da uma das festas da bicharada, entram dois rapazes desses de rua, meio bofinhos, e logo são levados para um quarto pelo anfitrião, a bichinha-hobbit de um metro e meio de altura. Eu, menino besta, estranhei aquilo e perguntei a minha mãe se os rapazes eram amigos do dono da casa, pois eles entraram os três no quarto e não saiam há um tempão. Eis que minha mãe me sai com esta:
_Ah, fulano é ativo, não é passivo não!
Obviamente ela não usou esses termos, mas os verbos equivalentes correspondentes: come e dá!
Eu não entendo até hoje qual a lógica da minha mãe me dizer essas coisas aos 11 anos. Não fazia sentido, primeiro porque era óbvio que aquele advogado franzino era evidentemente uma bichinha pintosa que no meio gay se chama de bicha PAM (Passiva Até a Morte) e é claro que ela estava hierarquizando os papéis desempenhados, sendo o ativo superior ao passivo. Minha mãe é craque em estabelecer valores.
Queria muito saber como a cena se passava na cabeça dela, com o mini-advogado traçando sozinho dois malandros de rua. Deve ter sido algo surreal, pois ela precisou dividir aquilo com o filho pequeno.
Quando eu tinha em torno de oito anos levei uma queda que quase me matou. Estava no segundo andar da casa dos meus pais e debrucei-me sobre um corrimão enferrujado que se partiu e caí de uma grande altura. Até hoje tenho a cicatriz no lado da testa. Foi brutal o tombo e caí nos pés de minha mãe que estava no quintal no momento. A reação dela foi imediata. Me pegou no colo e me levou pra rua aos gritos. Em vez de tomar um táxi ou me levar ao hospital o que fez?
Ahhhh Dona Sônia tem sempre ideias brilhantes. Ela resolveu que a coisa mais correta a fazer era me entregar ao primeiro desconhecido que passava na porta de casa. Disse para a pessoa: “Toma. Leva no Fórum que é filho do promotor”. E saiu gritando pra dentro de casa esperando que o bom samaritano fosse fazer o que ela disse.
Minha sorte foi que a pessoa a quem ela me entregou não tinha medo de sangue.
Sempre fui uma criança de saúde complicada e minha mãe sempre acreditou em todo tipo de medicina alternativa. Enquanto o tratamento com a empregada contratada não surtia efeito, minha mãe cada semana aprendia uma nova técnica infalível que iam de banhos de folhas malcheirosas a benzedeiras e até homeopatia para curar bactérias que faziam a festa no meu organismo.
Isso sem contar que a culpada das bactérias estarem ali era dela mesma, que se recusava a autorizar a operação das minhas amígdalas e só cedeu quando o médico ameaçou denunciá-la. Ela era daquele tipo de fãs de amígdalas para quem tirar minhas amígdalas era um tipo de amputação, não importava se sua função na minha garganta era entupir meu sangue de estreptococos.
Então ela entrou na onda do espiritismo e me levou pra um centro em que um médium incorporava o espírito de um tal de Zé Arigó ou Dr. Fritz. Não importa o nome porque eram ambos assustadores para uma criança de 11 anos.
Nesse centro eu via todo tipo de “cirurgia espiritual” que consistia no tal médium introduzir colheres nos olhos, bocas e narizes das pessoas e “abrir a barriga” dos crédulos pacientes com facas e canivetes. Tinha sangue ou algo que o valha pra todo lado e supostamente pedaços de tumores extirpados na pia do banheiro onde descansavam os “instrumentos cirúrgicos” usados, entre chumaços de algodão ensanguentados.
Ela anunciou toda orgulhosa que eu ia ser operado espiritualmente. Já me imaginei deitado ali com o tal Zé Arigó (que nome assustador) ou Dr. Fritz (parece nome de médico nazista), mas minha mãe tinha planos mais macabros. A tal cirurgia não seria no centro, mas na nossa própria casa. No dia marcado, eu deveria dormir sozinho em um quarto escuro com um pijama branco novo (não sei por que tinha que ser branco ou novo) e uma garrafa cheia de água da bica (não servia água da torneira?). O tal espírito ia vir exatamente à meia-noite para me operar.
Agora imagine o terror dessa criança tendo que dormir sozinha num quarto escuro esperando dar meia-noite para um espírito com um desses nomes tétricos chegar e me meter a faca. Pelo menos era uma faca espírita e não deixou cicatrizes visíveis.
Tenho uma cicatriz invisível em algum lugar.
Quando morávamos no interior nos anos 70, minha mãe era amiga de uma bichinha, um advogado de 1 metro e meio de altura extremamente afetado. Na casa desse homem, se reunia a nata gay da cidade. Era um povo muito alegre e animado que dava muitas festas principalmente no Carnaval para onde minha mãe levava a mim e meu irmão e passávamos horas dançando e pulando. Não sei o que minha mãe via de interessante em estar no meio de um monte de gays, pois ela era a única mulher no grupo. E ainda levava os filhos pequenos. Eu tinha de 11 a 12 anos e meu irmão é um ano mais novo.
Certo dia, no meio da uma das festas da bicharada, entram dois rapazes desses de rua, meio bofinhos, e logo são levados para um quarto pelo anfitrião, a bichinha-hobbit de um metro e meio de altura. Eu, menino besta, estranhei aquilo e perguntei a minha mãe se os rapazes eram amigos do dono da casa, pois eles entraram os três no quarto e não saiam há um tempão. Eis que minha mãe me sai com esta:
_Ah, fulano é ativo, não é passivo não!
Obviamente ela não usou esses termos, mas os verbos equivalentes correspondentes: come e dá!
Eu não entendo até hoje qual a lógica da minha mãe me dizer essas coisas aos 11 anos. Não fazia sentido, primeiro porque era óbvio que aquele advogado franzino era evidentemente uma bichinha pintosa que no meio gay se chama de bicha PAM (Passiva Até a Morte) e é claro que ela estava hierarquizando os papéis desempenhados, sendo o ativo superior ao passivo. Minha mãe é craque em estabelecer valores.
Queria muito saber como a cena se passava na cabeça dela, com o mini-advogado traçando sozinho dois malandros de rua. Deve ter sido algo surreal, pois ela precisou dividir aquilo com o filho pequeno.
Quando meu irmão mais novo nasceu, eu tinha 11 anos e a prefeitura de Vitória da Conquista, onde morávamos, estava instalando a rede de esgotos nas ruas que estavam com valas enormes. Choveu muito um dia e as ruas estavam enlameadas e as valas transbordando de água suja e fedida. Nessas condições de perigo, minha mãe não viu nada demais em me deixar sair com meu irmão recém-nascido no carrinho de bebê para passear por aquelas ruas, sem contar no frio que faz em Conquista. Tirei meu irmão do berço, quentinho, e disse a ela o que ia fazer. Nem um conselho, um aviso ou um alerta. Foi mesmo que nada.
Parando na beira de uma dessas valas, aconteceu o óbvio, o carrinho de bebê escorregou e caiu dentro da água suja com meu irmão dentro. Eu pensei na hora: “Ihhh...morreu!”. Eu é que não iria mergulhar naquela porcaria pra resgatar o bebê. Foi quando um rapaz conhecido viu a cena e prontamente mergulhou na água suja e espumosa. Primeiro tirou o carrinho e depois mergulhou de novo e resgatou meu irmão que saiu em choque e marrom de lama e lodo.
Chegando em casa entreguei o menino à minha mãe que enfiou ele debaixo do chuveiro como se nada tivesse acontecido.
Esse mesmo irmão apareceu quando criança com uma mancha de vitiligo no pescoço. Minha mãe ouviu contar que saliva de mãe cura vitiligo de filho então ela, muito crédula, passou a passar cuspe na mancha do meu irmão. Todo dia fazia isso como um ritual e tinha que ser saliva de jejum, não era uma saliva qualquer. Bem, a mancha cresceu um pouquinho e parou.
Ela jura que foi graças ao cuspe salvador.
Em outra oportunidade ela mostrou como merece ser processada pelas horas extras que obrigou nossos anjos da guarda a trabalharem. Em uma viagem de férias a uma fazenda, numa noite escura, ela não viu perigo algum em deixar que eu saísse de cavalo pelo pasto com meu segundo irmão na garupa. Não importava se eu já tivesse demonstrado que não era exatamente o irmão mais cuidadoso, não importava se eu não tivesse nunca andado de cavalo na vida, não importava se o cavalo era bravo ou manso, que mal havia em deixar duas crianças se divertirem numa noite escura num pasto escuro e com um cavalo desconhecido? O que poderia acontecer?
Um acidente, que foi exatamente o que aconteceu.
O cavalo disparou e, no escuro, tentou atravessar uma porteira onde só cabia o próprio cavalo. A trave superior da porteira bateu no meu peito e as duas traves laterais fraturaram meus dois pés. Eu não conseguia tirar o cavalo do lugar, ele insistia em passar pela porteira sem se dar conta que eu estava preso em cima dele sem conseguir passar. A sorte é que meu irmão pulou da garupa, correu até a sede da fazenda no escuro e buscou ajuda. Passei o resto das férias com os pés imobilizados.
Enquanto isso, meu primeiro irmão, para não ficar em desvantagem, resolveu apostar corrida à noite com outro menino e acabou se jogando contra uma cerca de arame farpado. Conseguiu cortar até a parte interna dos lábios além da cara e partes do corpo.
Para minha mãe, deixar os filhos soltos e expostos a todo tipo de perigo sempre foi um tipo muito pessoal de psicologia pedagógica.
Meus pais eram tão compatíveis como um torcedor do Vitória na arquibancada do Bahia; como um copo de leite com manga; como a mistura de água e óleo.
Minha mãe certa vez descobriu que meu pai tinha uma amante. Na verdade ela acabou convencendo a nós seus filhos disso. Hoje eu tenho 90% de certeza de que meu pai não tinha talento para arrumar uma amante. A tal mulher devia ser apenas uma amiga, se tanto. Mas minha mãe, que já a tempos não se dava com ele, dormindo por meses em quartos separados, resolveu implicar com essa história e para perturbar meu pai arrumou uma gata de rua e levou para dentro de casa. Batizou a bichana exatamente com o nome da tal suposta amante do meu pai: Michele!
Não satisfeita de xingar a pobre gata a todo momento: "Michele sua ordinária, Michele venha ver a sujeira que você fez aqui" e coisas assim, minha mãe escolhia os momentos sagrados do meu pai para xingar a gata Michele. E nos incentivava a fazer o mesmo sem sequer esconder dos filhos pequenos a razão real da pirraça: a suposta amante do meu pai.
Um dia, minha mãe conjecturou se desquitar, pois as coisas não andavam bem há tempos com meu pai. Dona Sônia é uma ariana mais impulsiva do que a maioria das arianas já é e quando decidia fazer algo, não havia quem a impedisse, até porque ninguém tinha tempo de fazer isso uma vez que ela nem sequer pensava antes de fazer. Quando pensou, já fez.
Então, quando ela não queria fazer alguma coisa, logo achava alguém pra responsabilizar por ela não fazer aquilo.
Voltado ao desquite, pois nos anos 70 ainda não havia divórcio, ela reuniu a mim e meu irmão para comunicar a decisão. Eu com onze anos e meu irmão com dez, começamos a chorar e perguntar o que iriamos dizer na escola. Algo bastante compreensível para duas crianças naquela época. Então ela decidiu não se desquitar, adiando a decisão inevitável por vários anos.
Tempos depois, perguntamos a ela se com tantos problemas com meu pai, por que ela não se separou antes. Ela tinha um trunfo: “Vocês não deixaram!”, dizia.
O pior é que ela acreditava mesmo naquilo, que era uma decisão suficientemente simples para ser deixada sob a responsabilidade de duas crianças. Logo ela, que ninguém consegue impedir de nada.
Se eu descobrisse que existia Psicanálise mais cedo tinha levado ela à falência.
Capítulo 9 - Dona Sônia e sua farmácia misteriosa
Capítulo 10 - Dona Sônia Mad Max
Minha mãe durante a maior parte da minha infância e adolescência tinha a firme crença de que qualquer remédio que ela tivesse na sua "farmacinha" curava tudo, de dor de cabeça a infecção respiratória. Não sei como ela não enterrou os filhos pois além de sermos as crianças mais mal comportadas da paróquia, minha mãe jamais em sua vida imaginou que houvesse uma coisa chamada "validade de remédio".
Na cabeça de minha mãe qualquer remédio, comprado a qualquer tempo, valeria para sempre. A muito custo convencemos ela de que não se devia jogar fora as caixas dos remédios mas nós mesmos achávamos que a razão era simplesmente para saber para que raios de doença esse ou aquele remédio servia. Só assim para evitar que ela desse antibióticos para gripe ou analgésicos para diarreia.
Bem, após a etapa de guardar os remédios nas caixas foi a vez de Dona Sonia fazer a descoberta mais sensacional da sua vida: Remédios têm validade. Era muito comum ao fazermos uma inspeção na sua "farmacinha" encontrarmos remédios com até 10 anos de validade vencida. Não sei como sobrevivemos a essas verdadeiras bombas fármicas. E nem adiantava falar com ela para se desfazer dos tais medicamentos. Ela dizia que ia jogar fora mas nos a víamos escondida levar os remédios de volta para a "farmacinha" ou criar uma "farmacinha alternativa", fartamente suprida de medicamentos vencidos há anos.
Na cabeça de minha mãe qualquer remédio, comprado a qualquer tempo, valeria para sempre. A muito custo convencemos ela de que não se devia jogar fora as caixas dos remédios mas nós mesmos achávamos que a razão era simplesmente para saber para que raios de doença esse ou aquele remédio servia. Só assim para evitar que ela desse antibióticos para gripe ou analgésicos para diarreia.
Bem, após a etapa de guardar os remédios nas caixas foi a vez de Dona Sonia fazer a descoberta mais sensacional da sua vida: Remédios têm validade. Era muito comum ao fazermos uma inspeção na sua "farmacinha" encontrarmos remédios com até 10 anos de validade vencida. Não sei como sobrevivemos a essas verdadeiras bombas fármicas. E nem adiantava falar com ela para se desfazer dos tais medicamentos. Ela dizia que ia jogar fora mas nos a víamos escondida levar os remédios de volta para a "farmacinha" ou criar uma "farmacinha alternativa", fartamente suprida de medicamentos vencidos há anos.
Capítulo 10 - Dona Sônia Mad Max
Já contei que minha mãe contratou uma empregada para me desvirginar e assim, na sua cabeça, me curar de uma doença séria. O que não contei é que ela e meu pai tiveram a briga mais séria que já vi por conta exatamente dessa empregada.
Um dia, meu pai, exímio falso moralista, descobriu que a moça estava grávida e resolveu expulsá-la de casa. Minha mãe estava, naquele momento, chegando da rua e sequer teve tempo de guardar o carro na garagem quando ouviu a gritaria. Entrou em casa correndo e viu meu pai bradando que não ia ter uma solteira grávida em casa. Imediatamente Dona Sônia interveio e disse que a moça não iria sair coisíssima nenhuma. Meu pai viu sua autoridade ser questionada (ele era promotor dentro de casa também) e avançou sobre a moça para expulsá-la. Minha mãe ficou na frente e levou um empurrão caindo sobre uma mesinha de centro.
Nas mãos de Dona Sônia, estavam as duas correntes de ferro que ela usava para fechar o carro na garagem. Em dois segundos, as duas correntes já caíram como chicote sobre os ombros do meu pai abrindo um talho. O sangue escorreu dali e ele voltou-se novamente sobre ela. Eu e meu irmão ficamos na frente para defendê-la.
Meu segundo irmão carregou para a rua o mais novo, ainda um bebê chorando, enquanto o meu primeiro irmão apanhou um índio de jacarandá e entregou nas mãos da minha mãe para que ela se defendesse Nisso, meu pai, que estava enrolado na toalha com que havia saído do banho, deixou a toalha cair, ficando completamente pelado na sala. Nu e sangrando.
Anos depois daquilo eu conheci a expressão “tragicomédia” e percebi que nenhuma cena de pastelão que eu visse na vida, no cinema, no teatro ou em qualquer lugar seria superior àquela.
Não sei que fim levou a empregada. Só sei que minha mãe justificou sua defesa da moça atribuindo a mim o motivo de tudo, pois a moça estava me curando da Coréia de Syderham. Ou seja, a culpa era toda minha.
Na verdade, acho que eles não teriam dinheiro suficiente para pagar as minhas sessões de Psicanálise.
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