29.1.09

Mulher é um bicho esquisito (2ª parte)


O ator Reinaldo Gianecchini declarou há alguns dias mais ou menos o seguinte: “Pegar, abraçar e beijar pode, mas esfregar os peitos na minha cara é um pouco demais”. Fiquei imaginando se as posições fossem invertidas e no lugar de Gianecchini estivesse uma atriz como, por exemplo, Carolina Dieckermann. E se em vez dos peitos femininos esfregados nele, fossem outras as partes masculinas esfregadas na atriz.

Atitudes como estas podem até não ser crime ou agressão, mas são de um mau gosto monumental. Certamente, uma mulher que se esfrega assim num homem deve achar que vai conseguir alcançar o seu objetivo. Mas há uma grande diferença entre a forma como são vistas essas mulheres e a forma como seria visto um homem que fizesse a mesma coisa. Ah, coitado!

Tenho uma teoria sobre isso que é um desdobramento da teoria que já existe com relação ao comportamento feminino no trânsito. Foram realizadas pesquisas que provaram que motoristas mulheres dão muito menos passagem a outros motoristas do que os homens. Experimente tentar sair de uma vaga ou de uma garagem e repare que se alguém lhe der passagem, certamente não será uma mulher. Por que isso?

A teoria que existe é a de que o espaço do trânsito é um terreno relativamente novo para as mulheres. Comparativamente, os homens dominam o espaço há mais tempo. Ocorre que há regras não-escritas no trânsito, como a que diz que você deve dar passagem para um veículo que necessita porque do mesmo modo você vai precisar que lhe dêem passagem adiante. É provado que mulheres em geral são mais gentis e, no trânsito, mais cuidadosas, mas também é provado que ali elas são mais fominhas. A explicação seria que elas não naturalizaram tais regras tácitas.

Do mesmo modo, mulheres que esfregam os peitos em um ator estariam se comportando de modo mais grosseiro ainda do que fariam homens em situação semelhante diante de uma bela atriz. Porque essa liberalidade é uma conquista nova delas e talvez ainda não dominem as regras. Pegue 100 mulheres e coloque diante de Reinaldo Gianecchini ou outro belo artista e pegue 100 homens e coloque diante de Carolina Dieckermann ou outra beldade da tv. Aposto que a chance da atriz ser mais bem tratada é muito maior.

Então chegamos às piriguetes.


A palavra piriguete ou periguete, (a Academia Baiana de Letras ainda não chegou há um consenso sobre a grafia correta), derivaria provavelmente do latim periculum ete (perigo eterno) e define aquelas mulheres constantemente “a perigo”. Mas engana-se quem pensa que estar a perigo é uma circunstância das mulheres feias ou encalhadas. Hoje, qualquer menininha novinha e lindinha pode se considerar a perigo. O termo, apesar de um tanto depreciativo, é bem mais carinhoso do que seu sinônimo carioca “cachorra”.


Mas você acha que elas estão ligando? Se as “cachorras” tem seu hino no funk do Bonde do Tigrão “uh, uh, só as cachorras/ uh uh uh uh uh!/ as preparadas/ uh uh uh uh uh!/ as popozudas”, as equivalente periguetes não ficam atrás e também têm uma música em sua homenagem na voz do Pagod’Art. É o já clássico “Piriguete”. A letra é um primor que faria inveja aos próprios Tom e Vinícius.

“As piriguete chegaram... Oba!/ As piriguete chegaram... Oba!/As piriguete chegaram... Oba!/ As piriguete chegaram... Oba!/ As piriguete quando chegam no pagode/ A galera se sacode e começa o auê./ É uma alegria ver a sua calça baixinha.../ Aparecendo a marquinha, eu não sei o que fazer...”

No território livre da internet descobrem-se características básicas de todas as piriguetes como as a seguir: piriguete não paga, ganha cortesia; não liga, dá toque (por isso, o chamado breve para que a pessoa ligue de volta foi apelidado de "piri-toque"; piriguete não fica, pega; não bebe, come água; não se veste, se prepara; não tem carro, tem carona; piriguete não dança, quebra; não namora, enrola; não leva bolsa, nem carteira; piriguete não tem amigas , tem colegas.

Essa questão das colegas me chamou a atenção. Ora, parece que as piriguetes não formam um consenso. Os homens as consideram gostosas, com aquelas calças baixas e marquinha de sol à mostra, mas elas não são apropriadas para o namoro, pois a proposta delas é outra.

Já as outras mulheres consideram a piriguete como adversária, pois ela sempre está roubando os namorados das outras, esbarrando nos banheiros e pintando o cabelo. Como disse: piriguete não tem amiga, tem colega. Ô raça desunida.

Indumentária de uma piriguete: micro blusas com cores fluorescentes, sutiã à mostra, saias jeans surradas e rasgadas, e sandálias de acrílico de salto sempre acima de 10 cm. Delineador preto, sombra de cores cítricas, batom rosa e o indefectível piercing no umbigo.

Os gritos são condição essencial da piriguetagem. No encontro de um grupo de piriguetes todas falam ao mesmo tempo, não importa onde estejam ou qual o assunto, sempre será entre gritos e todas compreenderão o essencial que é o que fizeram com o bofe ontem. Os risinhos também são chamariz para os machos da espécie como um ferormônio.

A piriguetagem já se tormou objeto de dissertação como é o caso do trabalho de Clebemilton Gomes do Nascimento, da Universidade Federal da Bahia “Piriguetes e putões”: representações de gênero nas letras de pagode baiano. Falarei a esse respeito em seguida com uma avaliação sobre o combo 3P: Piriguete, Putão e Pagode.

1 comment:

Unknown said...

Luiz, como sempre, adoro seu humor e senso crítico...