Fui assistir a Batman, O Cavaleiro das Trevas Ressurge, filme com que Christopher Nolan encerra a trilogia iniciada com Batman Begins, seguida de O Cavaleiro das Trevas e saí do cinema com uma certeza: essa praia super-heróis não é a minha.
Talvez eu devesse ganhar algum dinheiro para escrever sobre super-heróis. Assim, quem sabe, me interessasse entender vários aspectos das suas histórias: suas motivações psicológicas, sua psique complexa, sua ideologia messiânica, a necessidade dos seus fãs de idolatrá-los, sua presença avassaladora na cultura pop, a indústria gigantesca que move rios de dinheiro com seus subprodutos comerciais, o nerdismo dos viciados em fantasias e roupas apertadas, máscaras diversas, superpoderes mirabolantes, identidades secretas e inimigos números 1.
Talvez devesse me enfronhar na análise junguiana ou freudiana ou nos textos do psiquiatra Otto Rank sobre “O Mito do Nascimento do Herói” ou reler, com calma, e talvez entender, o tal Übermensch, o Super-Homem, que Nietzsche descreve em Assim Falou Zaratustra...Bem, há histórias de heróis mais interessantes e profundas do que as dos gibis da Marvel e DC Comics, e suas transposições para telas. Dizer isso certamente soa blasé e arrogante, mas reconheço que também não tenho a paciência abissal necessária e nem tempo para mergulhos mais profundos em Nietzsche, Freud, Jung e outros cabeções, que é o único modo de entender os heróis.
Mas também pra que entender? O negócio é diversão ou entrei na sala errada? Não estou louvando os filmes bobocas de ação pura e pancadaria generalizada, mas essa psicologia maciça e discussão sobre a alma também cansa. O problema nesse filme novo do Batman é que o diretor mistura pancadaria barata com diálogos de puro clichê e análise psicológica de drama bem raso. E assim, ele agrada a todos os lados: os que buscam adrenalina e os que garimpam conteúdo. Engana a outros, não a mim.
Por isso fico impressionado com artigos de críticos de cinema, como o de Isabela Boscov, na Veja, repleto de superlativos e louvações à profundidade dos diálogos do filme, começando o comentário com uma interjeição forte: “Meu Deus do céu!”, para seguir desfiando elogios rasgados ao diretor Cristopher Nolan que finaliza, ufa, sua trilogia do morcego. E tome-lhe: “virtuosismo técnico incomparável, roteiro da mais alta qualidade, capacidade de casar emoção explosiva com emoção genuína, filme absolutamente imperdível” A mulher gostou mesmo!!!
E o crítico do Jornal do Brasil, Filipe Quintans, incensa de confetes: “Tudo é gigantesco e pleno de fisicalidade. E deve ser. A trilogia é encerrada no volume de um trovão e com o impacto de dez deles. Quem vai ao cinema paga por sonhos. O Cavaleiro das Trevas Ressurge é uma coleção de ‘Grandes Eventos’ e dá ao espectador o exato tamanho de todos eles. Trata-se do melhor filme de seu gênero e, com a quantidade exata de boa vontade e apreço pela arte, o melhor filme de 2012”. Esse Quintans, pelo jeito, gostou até mais do que Isabela Boscov .
Mas pena mesmo foi ler o texto de Luiz Carlos Meten do Estadão, um crítico de alto nível: “‘Batman Begins’ me provocou uma comoção, o 2, ‘Cavaleiro das Trevas’, me impactou mais ainda e o 3 me deixou em prantos. Estou convencido de que Nolan é gênio”. Fico imaginando o homem, de certa idade, chorando enquanto na tela rolam diálogos absolutamente pueris.
Sei não...mas essa escuridão toda é demais para meu Rivotril. Para começar, temos um Batman (Christian Bale) banido e escondido por oito anos nas cavernas sombrias da mansão Wayne; um Bruce Wayne de luto fechado, num ostracismo amargurado meio caquético; um promotor-vilão defunto (Aaron Eckhart), louvado como herói; um mordomo Alfred (Michael Caine) sorumbático e nostálgico; um comissário Gordon (Gary Oldman) carregado de complexo de culpa; policiais sem autoestima (Mattew Modine e Joseph Gordon-Levitt); órfãos para todos os lados; um vilão mascarado originário da escuridão (Tom Hardy); uma mulher-gato ladra desesperada para desaparecer nas sombras do oblívio (Anne Hathaway), uma milionária obscura de passado misterioso (Marion Cotillard). Como diria o menino prodígio: Santa Morbidez, Batman!
Essa suposta profundidade de diálogos e roteiro a que se referem os críticos aparentemente não se aplica às cenas de briga em que não importa de vilão e herói dispõem de armas de grosso calibre para se matarem mutuamente. Na hora da briga cara a cara os marmanjos recorrem aos velhos e manjados socos que estamos cansados de ver em filmes B de pancadaria ou em competições de MMA. É a hora em que o diretor deixa toda a conversa mole e o psicologismo barato de lado e cede ao verdadeiro vício secreto de todo fã nerd: testosterona. É pena que a direção de arte economize na verba da hemoglobina, pois saraivadas de soco na cara pode, mas sem respingos de sangue para não manchar a capa do morcego.
Ai que preguiça. Acho que passei da idade.
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