No filme Diamante de Sangue, estrelado por Leonardo DiCaprio, é retratada, com cores sórdidas a terrível guerra civil pela qual passou Serra Leoa, país miserável da África. Como pano de fundo e motor principal das misérias da população, o desumano comércio e o contrabando de diamantes, a maior riqueza e a maior desgraça de Serra Leoa.
O filme tem todos os ingredientes de um blockbuster, com muitas sequências de guerra e perseguição, mas entre as muitas cenas de ação, uma passagem fica quase despercebida e resume todo o paradoxo da riqueza e da pobreza: em uma aldeia devastada pela guerra, um velho esquálido, sobrevivente de uma chacina mira o vazio e explica a razão daquela matança: as minas de diamantes. Mas, em meio ao caos, suspira aliviado e diz: “— Mas, graças a Deus pelo menos aqui não temos petróleo.”
Os países com as maiores fontes de riqueza como petróleo e pedras preciosas são ditaduras ou regimes totalitários. Enquanto o Congo e Botswana são os maiores produtores mundiais de diamante, as maiores reservas de petróleo e gás natural, ficam na Arábia Saudita, Rússia, Iraque, Irã, Emirados Árabes, Qatar, Kuwait, Venezuela, Argélia, Líbia, Nigéria e China. A riqueza, ao invés de trazer benefícios à população, traz ciclos de ditaduras, guerra e violência.
O que há em comum entre esses países acima além do fato de que são fontes de riqueza natural? Qual deles pode ser considerado uma verdadeira democracia? Ou têm população miserável com baixíssimos índices de qualidade de vida ou são ditaduras com maior ou menor viés religioso. E em alguns casos são as duas coisas.
No seu livro “Carta a uma Nação Cristã”, o filósofo Sam Harris lembra que países como Noruega, Islândia, Austrália, Canadá, Suécia, Suíça, Bélgica, Japão, Holanda, Dinamarca e o Reino Unido estão entre as sociedades menos religiosas da terra e de acordo com o Relatório do Desenvolvimento Humano da ONU, também são as mais saudáveis, segundo os indicadores de expectativa e vida, alfabetização, renda per capita, nível educacional, igualdade entre os sexos, taxa de homicídios e mortalidade infantil. Inversamente, os cinqüenta países que ocupam os lugares mais baixos, segundo o índice de desenvolvimento humano das Nações Unidas, são fervorosamente religiosos.
Em breve o Brasil pode estar entrando na lista dos maiores produtores de petróleo do mundo graças ao pré-sal. Um mundo de possibilidades vem à nossa frente, embalado nas ondas de um mar de dólares e há uma boa chance de grande parte de esse dinheiro ser desviado para corrupção (hei, estamos no Brasil!) ao invés de reverter em benefício da população. Ah sim, claro, há todo um discurso vendendo o pré-sal como a redenção da pobreza, mas nós já ouvimos esse discurso antes e sabemos como termina.
Mas já que temos o pré sal e somos o maior país católico do mundo vamos aproveitar o embalo e entronar a Santa Cunegunda como a padroeira das gigantescas reservas petrolíferas do pré-sal. É bastante apropriado uma vez que ela já é a padroeira do sal e neste ano de 2009 completam-se dez anos da sua canonização. A história conta que Santa Cunegunda foi é responsável pela descoberta de uma gigantesca mina de sal perto de Cracóvia. Poderia ser responsável também pelo campo de Tupy.
Às vésperas de casar, o pai teria oferecido a ela uma arca cheia de ouro e pedras preciosas. Santa Cunegunda rejeitou o dote, "por haver custado sacrifício e sangue do povo". Pediu uma arca com sal. O pai doou-lhe, então, uma mina na Transilvânia. Quando foi conhecê-la, ela jogou ali seu anel mais precioso, agradecendo a Deus o presente. Tempos depois, sensibilizada com a pobreza do lugar, mandou a população cavar um buraco e apareceu sal em abundância e, no meio, o anel que a virtuosa senhora deixara na Transilvânia. Com isso, Santa Cunegunda virou protetora dos exploradores de sal.
Na Última Ceia, Leonardo da Vinci colocou um saleiro entornado diante do cotovelo de Judas. Deixar cair sal no chão atrai azar. Em compensação, Jesus chamou os apóstolos incumbidos de espalhar sua palavra de "o sal da terra".
Vê que esse negócio de sal e petróleo vai longe? Já temos Deus e Santa Cunegunda, só precisamos de um profeta barbudo.
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