4.11.24

48ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO

 

Mais um ano retorno da maratona de filmes da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo com a avaliação de todos os anos: sempre é uma das melhores coisas que faço nas férias. 

Essa é o 22ª ano que participo da Mostra. Há vários anos compro um passaporte que era antes de 50 e hoje é de 40 filmes (o de 50 não existe mais), o que é uma grande vantagem pois além de o valor ser de R$ 410,00, equivalente a menos do valor de uma meia entrada durante a semana, é possível reservar o filme com 5 dias de antecedência, o que é uma maravilha principalmente por evitar o risco de se bater com ingressos esgotados, o que acontece muito com os filmes mais concorridos.

A correria é grande e acaba que muitas vezes bate o cansaço e não dá para ver todos os filmes desejado ou reservados. Este ano foram 417 filmes de 82 países diferentes passando em 15 dias (mais os dias da repescagem). Foram 31 filmes assistidos no total e aqui abaixo faço a avaliação listando dos melhores até os piores, como faço todos os anos. Este ano, curiosamente, os 3 melhores filmes são brasileiros, assim como o pior também. Selton Melo está presente nos dois extremos.

SERRA DAS ALMAS - Direção de Lirio Ferreira- Em Pernambuco, um roubo de joias vai reunir um grupo de amigos desajustados com resultados catastróficos. Vigiados por fantasmas do passado, cada um deles terá de encontrar a própria forma de liberdade. Foi um dos melhores filmes a que assisti nesse ano e também na Mostra. Fico sempre impressionado com o vigor do cinema pernambucano e que reforça minha admiração pelo diretor do também excelente Baile Perfumado. Um filme potente, com interpretações afiadas, trilha sonora excepcional, extrema sensibilidade na escolha de planos muito originais e uma montagem que torna ainda mais interessante a amarração do roteiro. Sem qualquer defeito. Estouraria a cabeça do próprio Tarantino. Levou o Prêmio Netflix da Mostra. 

3 OBÁS DE XANGÔ - Documentário de Sérgio Machado vencedor dos Prêmios de Melhor Documentário Brasileiro da Mostra de Cinema de São Paulo e do Festival de Cinema do Rio. Por meio da seleção de belíssimas cenas de arquivo e filmes antigos, retrata a amizade entre Jorge Amado, Dorival Caymmi e Carybé, maiores responsáveis pela criação de um imaginário de baianidade que persiste até hoje. Os três defendiam que a força de suas obras residia em documentar o que viam nas ruas: a resiliência do povo do candomblé, o poder das mulheres e a onipresença do mar. Os livros de Jorge, as canções de Caymmi e as pinturas e esculturas de Carybé consolidaram um modo de estar no mundo dos baianos e influenciaram as gerações de artistas que vieram depois. O documentário me fez chorar em alguns momentos apreciando o poder da arte e da amizade. Excelente escolha da trilha sonora solar.

AINDA ESTOU AQUI – De Walter Salles com Fernanda Torres e Selton Mello. Prêmio de melhor roteiro no Festival de Veneza. No Rio de Janeiro, em 1970, quando o país enfrenta o endurecimento da ditadura, o deputado federal cassado Rubens Paiva, sua esposa Eunice e os cinco filhos vivem uma vida alegre como forma sutil de resistência à opressão que paira sobre o Brasil. Rubens é levado pelo Exército e nunca mais volta e Eunice é obrigada a se reinventar e traçar um novo destino para si e os filhos. Baseada no livro biográfico de Marcelo Rubens Paiva. O filme tem excelente trilha sonora (destaque para a belíssima canção de Erasmo Carlos que acompanha os créditos: “É Preciso Dar um Jeito, Meu Amigo”), perfeita reconstituição da época com cenários dos anos 70, ressaltando a fotografia e a direção de arte. Porém, o seu maior cartão de visita que é a interpretação poderosa de Fernanda Torres pode ser também seu calcanhar de Aquiles. Explico: Ao mostrar a personagem Eunice como mulher forte, mas afetuosa, e que consegue juntar os cacos da família destroçada pela ditadura e morte do seu patriarca, vemos uma mulher com poucas reações mais humanas do que o medo e da estupefação. Não há nenhuma cena de desespero e em que ela desabe, mesmo secretamente, mesmo dentro de uma cela fétida onde ficou por mais de dez dias sem saber o que aconteceu com o marido a filha que foi presa junto com ela. Bastava o diretor mostrar Fernanda chorando sozinha no banheiro e teríamos a dimensão mais humana da personagem. Parece pouco mas considero uma forma de retratar alguém com outras camadas que não a da heroína clássica.

SEX
– Filme da Noruega vencedor dos prêmios do júri ecumênico e da Confederação Internacional de Cinemas de Arte do Festival de Berlim. Um filme instigante e que aborda um tema que talvez não fosse tão bem abordado em um cinema com outra tradição que não o escandinavo. Dois homens em casamentos heterossexuais questionam as suas sexualidades após experiências inesperadas. Um deles tem um encontro sexual com outro homem, sem considerá-lo como uma expressão de homossexualidade ou infidelidade e depois discute o ocorrido com a esposa. Fiquei em dúvida sobre a razão subjacente ao marido revelar à esposa que fez sexo casual com outro homem. A reação dela é perfeitamente compreensível e não sei se ele foi ingênuo ao esperar outra reação ou se o relato escondia a vaidade pelo fato de ele ser desejado. O filme não julga e isso é uma qualidade. Os diálogos são muito bem construídos e maduros.

CORAÇÕES JOVENS - Filme da Bélgica que recebeu menção especial da Seção Generation Kplus do Festival de Berlim. Lembra o também belo filme belga Close e indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro. Um dos filmes mais bonitos da Mostra e que conta a história de Elias, de 13 anos, que se sente atraído pelo vizinho da mesma idade. Ele está profundamente apaixonado pela primeira vez e as interações com amigos e familiares  trazem mais dúvidas do que respostas. Confuso sobre seus sentimentos, Elias empenha-se para resolver o caótico conflito que toma conta dele e tentar conquistar Alexander. Uma bela história sobre como o apoio da família é importante na aceitação da sexualidade. Os ator que interpreta Elias é magistral e as cenas em que ele chora convulsivamente são extremamente tocantes e lembram as cenas com crianças dirigidas pelo iraniano Abbas Kiarosmai.

A TESTEMUNHA - Vencedor do prêmio do público da seção Horizontes Extra do Festival de Veneza. No Irã, Tarlan é uma professora de dança aposentada que testemunha a morte da amiga assassinada pelo marido, uma figura importante do governo que vinha espancando a esposa por não aceitar sua profissão ligada à dança popular do país. Quando a polícia se recusa a investigar o crime, Tarlan precisa decidir se cederá à pressão política ou se arriscará a vida e a reputação na busca por justiça. Uma última sequência final que é pura poesia e, enquanto sobem os créditos, assistimos uma coletânea de vídeos de mulheres espancadas nas ruas do Irã pela polícia da moralidade devido ao não uso do véu, intercalados de outros vídeos de iranianas dançando em protesto ao redor do mundo, sem o véu. Poderosíssima e bela denúncia!

PEDRO PÁRAMO
- Baseado no romance homônimo de Juan Rulfo, considerado um dos livros mais importantes do México, o filme acompanha Juan Preciado, que, após a morte da mãe, vai para a isolada localidade onde nasceu à procura do pai, Pedro Páramo e encontra uma cidade fantasma e pessoas misteriosas, descobrindo a busca implacável do pai por riqueza e poder. O passado torna-se presente à medida que aprendemos a verdade por trás da caça de Páramo pelo amor que conheceu ainda criança. A linha entre mortos e vivos, passado e presente, constantemente se confunde nesta história surreal de desejo e ressentimento. Foi uma sincronicidade esse filme estar na Mostra pois eu havia parado de ler, dias antes, a obra na qual o filme se baseou justamente porque não estava entendendo a história. Agora já posso retomar a leitura.
O BANHO DO DIABO- Vencedor do prêmio de melhor contribuição artística no Festival de Berlim. Em vilarejos cercados por florestas na Áustria, uma mulher é condenada à morte após matar um bebê. Muda o cenário e já vemos Agnes uma jovem que vai se casar e se prepara para a vida de esposa. Logo ela se vê num caminho obscuro e solitário que a leva a pensamentos malignos tendo em vista que seu marido não sente desejo sexual por ela. Retrato de uma época violenta contra as mulheres em que suas infelicidades devido à repressão eram consideradas histeria ou possessão demoníaca.  O filme tem cenas chocantes. Logo no início vemos uma mulher jogando um bebê de uma cachoeira e depois outra mulher matando um rapazinho com estocadas no seu pescoço. Reconstituição de inúmeros episódios envolvendo mulheres que foram decapitadas após matarem crianças no século 18.

A CASA- Espanha- Vencedor dos prêmios da crítica, do público e de melhor roteiro no Festival de Málaga. Um ótimo filme com o tema clássico sobre reencontro familiar e catarse. Após a morte do pai, três irmãos retornam à casa onde cresceram. Eles pretendem vendê-la e seguir caminhos muito diferentes. Mas, à medida que as memórias surgem em cada canto do lugar, cresce neles o medo de se livrar do passado e o impulso de se reunir. Como última homenagem ao pai, ainda pode haver tempo para recuperar o tempo perdido — e a casa pode testemunhar novas histórias. O filme tem diálogos bastante maduros e o reencontro dos três irmãos para decidir sobre a eventual venda da casa da infância é uma oportunidade para discutirem temas dolorosos envolvendo velhice, fraternidade e amor.

OS DEMONIOS DO AMANHECER - Orlando e Marco, dois jovens que moram na Cidade do México, se conhecem por acaso e se apaixonam. Todos os dias é uma luta para realizarem seus sonhos: Orlando quer ser dançarino, enquanto Marco tenta se formar em enfermagem. Diante de um mundo diverso, mutável e hostil, eles vão aprender que, ao fim do dia, assim que a escuridão da noite for embora, com seus corpos entrelaçados e suas almas sincronizadas, terão visto todos os demônios do amanhecer passarem. Um filme lírico e muito bonito, que deixa o coração quentinho. Pode ser meio açucarado, mas às vezes é exatamente o que precisamos. Os dois atores estão muito bem e a direção explora lindamente a nudez e seminudez dos seus corpos jovens. As cenas de sexo são muito quentes e sensuais, mas conseguem ao mesmo tempo trazer muito afeto junto.

ROCINANTE - Na movimentada Istambul, um casal luta para se sustentar e dar uma vida digna ao filho de seis anos que ainda não fala e que precisa de acompanhamento especializado. O pai foi demitido e a mãe vende seguros por home office. Até que o casal decide explorar uma nova oportunidade de trabalho: dirigir um mototáxi. As coisas começam a melhorar, eles começam a se reerguer mas uma desagradável surpresa joga por terra os planos do casal: a moto deles que tem o apelido de "Rocinante" (o cavalo de Dom Quixote), é roubada. A relação de ambos vai precisar passar por essa prova de fogo se eles quiserem ser fortes e conseguir tratar do filho. 

O ANO NOVO QUE NUNCA VEIO - Filme romeno vencedor do prêmio de melhor filme da seção Horizontes do Festival de Veneza que mostra o dia 20 de dezembro de 1989, quando a Romênia está à beira da revolução. As ruas estão repletas de manifestações, os estudantes tripudiam do regime por meio da arte e as apresentações de Ano Novo glorificam a figura do ditador. As pessoas sofrem a onipresença da polícia secreta do país. Seis pessoas aparentemente sem ligação alguma se cruzam de maneiras inesperadas. À medida que as tensões sociais atingem o ponto de ebulição, um momento explosivo as une, culminando na queda dramática do ditador e do governo comunista. O cinema da Romênia nunca decepciona, sempre com excelentes histórias.

MAMÍFERA- Filme da Espanha vencedor do prêmio especial do júri do festival South by Southwest. A história de Lola, que leva uma vida feliz ao lado do companheiro até que uma gravidez inesperada altera todos os seus planos. Ainda que sempre tenha deixado claro que ser mãe não era um objetivo, Lola começa a se sentir desafiada pelas expectativas da sociedade e passa a enfrentar temores e dúvidas pessoais. Durante os três dias em que espera até a consulta em uma clínica, ela se aproxima de amigos e familiares com a intenção de reafirmar sua decisão.  Um tema bastante adulto e com texto maduro e importante. Todas as mulheres devem tirar proveito da película já que o tema da maternidade ou a opção pelo aborto é um assunto muito presente em suas vidas.

AS CRIANÇAS VERMELHAS - Um filme da Tunísia. Um grupo terrorista ataca dois jovens pastores. Ashraf, de 14 anos, é forçado a levar uma mensagem macabra à sua família: a cabeça decepada do seu primo. Traumatizado, ele precisa lidar com a fragilidade dos parentes mais velhos, abandonados pelas autoridades. Inspirado em eventos reais, vemos o retrato das feridas psicológicas de uma criança e sua capacidade de superar traumas. A Tunísia é um dos países com um cinema muito interessante e já vi vários filmes de lá, mas nunca um que se passa nas montanhas e envolvendo esse tema tão pesado.

ABRIL- Filme da Geórgia vencedor do prêmio especial do júri no Festival de Veneza e melhor filme do Festival de San Sebastián - Nina é uma talentosa obstetra em uma maternidade. Após um parto difícil, a criança morre, e o pai exige uma investigação sobre os métodos da médica. O escrutínio resultante ameaça trazer à tona a atividade paralela de Nina —dirigir pelo interior até as casas de meninas e mulheres grávidas para realizar abortos não autorizados— e destruir a profissão que é a única fonte de significado em sua vida.  O filme tem longas cenas brutais de um parto natural, de uma cesariana e de um angustiante aborto.


O PARDAL NA CHAMINÉ – Suiça – Karen, o marido e os filhos vivem numa bucólica casa que sempre pertenceu à sua família. Naquela casa houve uma série de dramas, morte e suicídio. Num jantar de aniversário, a irmã de Karen, seu marido e os dois filhos chegam para visitá-los. As duas mulheres não poderiam ser mais diferentes. O encontro entre elas desencadeia lembranças terríveis de sua falecida mãe, incitando uma tentativa de insurreição da irmã Jule contra o comportamento da dominadora Karen. Conforme a casa lentamente ganha vida e um pardal preso na chaminé procura um caminho para a liberdade, a tensão torna-se insuportável, e os sentimentos e espaços antigos são destruídos para dar lugar a algo novo.

MARIA CALLAS - "Por que tanta gravidade?" Essa pergunta feita pela personagem titulo do filme aos empregados serve para definir o que achei da obra filmada. Muito grave! tanto no sentido do excesso de seriedade como da atração magnética exercida por Callas ao seu redor, como uma verdadeira estrela. A tumultuada, bela e trágica história da vida da maior cantora de ópera do mundo, Maria Callas, reimaginada durante seus últimos dias na Paris dos anos 1970 tem atuação correta de Angelina Jolie e direção de Pablo Larraín, chileno que também dirigiu as biografias  “Jackie” (sobre Jacqueline Kennedy), prêmio de roteiro no Festival de Veneza e indicado a três Oscars e “Spencer” (sobre a Princesa Diana), também indicado ao Oscar. Seu filme “O Conde” uma fantasia esquisita sobre um Pinochet vampiro, ganhou o prêmio de melhor roteiro em Veneza e foi também indicado ao Oscar. O que incomodou foi que o diretor esquece totalmente de mostrar o papel importantíssimo que a mãe de Callas exerceu na sua vida, focando somente no papel de Onassis. Ocorre que Evangelia, mãe de Maria, era uma personagem extremamente opressora e que destruiu a psique da filha, levando-a a uma busca insana da perfeição na ópera e com uma obsessão pelo dinheiro e a fama. A própria paixão tóxica de Maria por Onassis, um homem rude e que detestava ópera, foi uma forma inconsciente de fugir da influência da mãe que aparece em uma única e rapidíssima cena em que obriga a filha a cantar árias para os nazistas que invadiram a Grécia durante a segunda guerra mundial. O diretor está tão preocupado com os aspectos técnicos, inserindo até claquetes nas cenas, que cai em uma monotonia narrativa, reiterando os mesmos tópicos sem se aprofundar em quem realmente era Callas. 

PEQUENAS COISAS COMO ESTAS - Filme irlandês com Cillian Murphy e que deu à ótima Emily Watson o prêmio de melhor atuação coadjuvante no Festival de Berlim. Não sei quem eram as concorrentes e acho Watson sempre excelente, mas a participação dela nesse filme é de pouquíssimos minutos. Em uma pequena cidade da Irlanda. Bill trabalha como vendedor de carvão para sustentar a esposa e as cinco filhas. Durante uma entrega no convento local, ele faz uma descoberta que o força a enfrentar o passado e a cumplicidade silenciosa de uma cidade controlada pela Igreja Católica que por décadas administrou as malditas “Lavanderias de Madalena” que mantinha em regime quase escravo prostitutas, deficientes mentais ou moças jovens que engravidavam vítimas de estupro ou incesto. O problema do filme é que mesmo que não quisesse parecer didático, era importante mostrar como eram terríveis internamente as “Lavanderias” e não retratá-las apenas pelo olhar do protagonista, que, queiramos ou não, é um filtro dentro do filtro, até porque a maior parte das pessoas não tem ideia do que foram aquelas instituições mesmo já tendo sido muito bem retratadas no filme de 2002, Em Nome de Deus (The Magdalene Sisters). O drama de uma única personagem, por mais forte que seja, não alcança a dimensão da tragédia 

A BORDA DOS SONHOS - Vencedor do prêmio de melhor documentário no Festival de Cannes. Mostra uma vila no Egito em que um grupo de meninas forma uma surpreendente trupe de teatro de rua. Elas sonham em se tornar atrizes, dançarinas e cantoras, desafiando as famílias e os habitantes locais com apresentações imprevisíveis. Filmado ao longo de quatro anos, o documentário acompanha as garotas da juventude ao início da vida adulta, revelando as escolhas cruciais que precisam enfrentar ao longo de suas trajetórias.




LUA- Áustria - Ex-atleta de MMA, Sarah deixa a Áustria para treinar três irmãs de uma família rica no Oriente Médio. O que inicialmente parece um emprego dos sonhos logo ganha contornos inquietantes: as jovens estão isoladas do contato com mundo exterior e sob vigilância constante. Além disso, o  esporte não parece interessá-las nem um pouco. Então por que Sarah foi contratada? Vencedor do prêmio especial do júri no Festival de Locarno.

VERMIGLIO – Filme vencedor do grande prêmio do júri no Festival de Veneza, mas que não me pareceu tão especial assim. Em uma aldeia no alto dos Alpes italianos, a guerra surge durante o ano de 1944 como uma ameaça. A chegada de Pietro, um soldado desertor, transforma a dinâmica familiar do professor local, mudando-a para sempre. Pietro e Lúcia, a filha mais velha do mestre, se apaixonam, o que desencadeia consequências inesperadas. À medida que o mundo ressurge da tragédia, a família começa a enfrentar a própria ruína.

DEPOIS DA GUERRA - Co produção Dinamarca e Kosovo - Prédios em chamas em meio a uma densa neblina, um cavalo morto em uma estrada coberta de poeira, pessoas fugindo por paisagens montanhosas. O fim do conflito no Kosovo em 1999 gerou imagens fortes e foi um capítulo obscuro da história da Europa moderna. Depois da guerra, crianças vendem amendoins e cigarros nas ruas da capital do país, para sobreviverem. Em uma espécie de testamento cinematográfico realizado ao longo de 15 anos, esses jovens se transformam em adultos diante dos nossos olhos, enquanto que a luta pela sobrevivência se torna uma luta por algum futuro. Eles nos confrontam com seus segredos e desejos particulares, ao mesmo tempo em que se veem presos em um limbo, assombrados pelo passado. 

AFTER PARTY - Filme da República Tcheca- Uma jovem de 23 anos, leva uma vida sem preocupações até descobrir que seu pai deve muito dinheiro quando chegam para confiscar a casa onde moram. Em um único dia, o mundo da garota desmorona, forçando-a a escolher entre ajudar o pai ou salvar a si mesma antes que seja tarde demais. Até porque o pai demonstra não estar preocupado com os problemas financeiros pois vive numa espiral de negação que periga muito envolver a própria filha.

HANAMI- Produção de Cabo Verde. Vencedor do prêmio de melhor direção para realizadores em ascensão e menção especial da competição de primeiros filmes no Festival de Locarno. Prêmio do Júri da Mostra Melhor Filme de Ficção.  Em uma distante ilha vulcânica de onde todos querem partir, Nana aprende a ficar. Sua mãe, Nia, que sofre de uma doença misteriosa, foi embora depois que a menina nasceu. Acometida por uma febre alta, Nana é enviada ao pé do vulcão para ser curada. Lá, encontra um mundo que mistura sonho e realidade. Anos depois, quando Nana já é uma adolescente, Nia retorna. Não achei nenhuma graça nesse filme, achei na verdade bem chatinho e não me encantou em absolutamente nada. Devo ser uma pessoa insensível a certos tipos de coisas muito vagas.

AFOGAMENTO SECO - Produção da Lituânia vencedora dos prêmios de melhor direção e melhor atuação para o elenco do filme no Festival de Locarno. Para comemorar o aniversário de Tomas e a vitória de Lukas em uma competição de artes marciais, duas irmãs organizam uma celebração na casa de campo da família. Na companhia de seus filhos e maridos, elas nadam no lago, relaxam e falam sobre a situação financeira familiar. Após um acidente quase trágico com uma das crianças que quase se afoga, as irmãs se tornam mães solo. Não entendi a opção muito esquisita de repetir uma certa cena no meio da história numa montagem que eu diria que foi caótica.

RESPIRAÇÃO FRIA - Filme iraniano excelente que conta se passa em um dia em que um jovem que vive no interior descobre que o pai foi libertado da prisão após 20 anos. O homem foi condenado por matar a esposa, mãe do rapaz depois de acusá-la de traição. O rapaz, que nunca soube como lidar com isso e que ainda continua repleto de raiva e ressentimento, decide mesmo assim pegar a estrada para trazer o pai de volta da cadeia. Eles iniciam a viagem, marcada pelo silêncio. As dúvidas do jovem sobre se vingar ou não do pai não o abandonam por nenhum momento. Um filme em que o silêncio dos personagens é quase um personagem em si.
ANORA- Filme americano vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes. Anora, uma jovem profissional do sexo do Brooklyn, tem a grande chance de mudar de vida, tal qual numa história de Cinderela, ao conhecer e se casar impulsivamente com o jovem filho de um oligarca russo. Mas, assim que a notícia chega à Rússia, esse conto de fadas é ameaçado — os pais de Ivan partem para Nova York para anular o casamento. Foi um dos filme mais disputados, com sessões lotadas e ingressos esgotados. Na minha opinião, repercussão e méritos imerecidos devido ao mal disfarçado tom farsesco e não sei nem se o filme se leva de fato a sério. Ou pior, se leva a sério demais. Em votações da internet, quase metade do público deu nota 5 (máxima) enquanto a outra metade deu nota 1 (mínima)  num claro ame-o ou odeio-o. Achei muito fraco, água com açúcar de humor escapista com excesso de gritarias e cenas quase pastelão. Direção, roteiro, produção e montagem de Sean Baker, queridinho do cinema independente americano bastante premiado como em  “Tangerine” no Festival de Mar del Plata e no Festival de Karlovy Vary, e “O Projeto Flórida”, indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante para Willem Dafoe. Seria menos pior se o próprio diretor também não tivesse cuidado da montagem, o que faria o filme ser mais enxuto e não os longuíssimos 2h e 20 minutos.

O SENHOR DOS MORTOS - Canadá. Direção de David Cronnemberg - Um empresário renomado (Vincent Cassel) está inconsolável desde a morte da esposa, ele inventa uma tecnologia revolucionária que permite monitorar entes queridos em suas mortalhas e sepultos. Certa noite. Quando vários túmulos são violados, incluindo o da companheira falecida, então sai à procura dos culpados. Achei um filme fraquíssimo e li que o cineasta escreveu o roteiro filme enquanto vivia a dor da perda da própria esposa, resultando numa espécie de filme-terapia com história frouxa, final abrupto aberto. Não fica claro porquê o personagem adorar mulheres amputadas, submissas e frágeis a não ser uma obsessão do próprio diretor como se vê em muitos dos seus filmes anteriores como Crash, Gêmeos Mórbida Semelhança, A Mosca, Scanners e Mistérios e Paixões.

ESTAMOS NO AR - Um filme péssimo de Portugal. A história de um jovem que vive com a mãe no apartamento que a avó deixou. O filme tem planos extremamente preguiçosos e montagem burocrática. O gancho de atração LGBT com cenas em que o rapaz se veste como policial para satisfazer o fetiche de outro homem são pura armadilha para incautos e as cenas de sexo gay são das mais mal feitas e destituídas de química que já vi. O diretor poderia por exemplo ter assistido ao filme mexicano Os Demônios do Amanhecer, comentado acima, para saber o que são cenas quentes bem filmadas. O filme me incomodou de tal maneira que fiz algo raro: saí no meio da sessão com profundo sentimento de perda de tempo. 

SIMON DA MONTANHA- Coprodução da Argentina, Chile e Uruguai e vencedor do grande prêmio da Semana da Crítica do Festival de Cannes. – “Simon tem 21 anos e se apresenta como ajudante de mudanças. O rapaz afirma não saber cozinhar nem limpar o banheiro, mas sabe arrumar a cama. Recentemente, ele parece ter se tornado uma pessoa diferente”. Essa acima é a sinopse do filme e não poderia ser mais vaga. O filme é uma coisa completamente estranha e sem muito sentido. Esse rapaz Simon se finge de deficiente não se sabe por quê e nem o filme se preocupa em explicar ou deixa alguma indicação. O filme inteiro é essa besteirada de um jovem se fazendo passar por deficiente. Aceite, que é o que tem pra hoje.

ENTERRE SEUS MORTOS - Brasil - Um dos piores filmes que já assisti na vida. Na pequena cidade de Abalurdes, Edgar Wilson (Selton Mello) trabalha como recolhedor de animais mortos nas estradas. Junto dele, o colega de profissão, ex-padre excomungado que distribui extrema unção aos seres moribundos que cruzam seu caminho. Ao redor deles, o mundo parece dar sinais de que um arrebatamento final se aproxima com chuva de granito e tudo.  Dirigido por Marco Dutra que fez os excelentes O Silêncio do Céu e As Boas Maneiras. Não sei como esse mesmo diretor fez os dois filmes acima. Acho que devia estar sob fortes barbitúricos quando rodou esse. Uma metáfora porca sobre pandemia, fanatismo religioso e escatologia com direito a muito sangue e vísceras e uma reviravolta besta com a entrada de um serial killer. Impressiona que o famoso produtor Rodrigo Teixeira tenha proposto entusiasmadamente essa bomba. Somente Beth Farias está bem no filme. Ridículo!

2.10.24

LIVROS LIDOS DE JUNHO A SETEMBRO DE 2024




Na segunda postagem deste ano sobre os livros que li até o mês passado, somo aos 16 lidos de Janeiro a Maio, os 8 lidos de Junho a Setembro.

1 - A CARTUXA DE PARMA – De Stendhal
– Segundo livro que li do autor após O Vermelho e o Negro. Escrito em apenas 53 dias em 1838, acompanhamos as desventuras do jovem e idealista Fabrício Del Dongo que de tanto admirar Napoleão Bonaparte, quando da invasão da sua Itália natal, decide unir-se ao seu herói na célebre Batalha de Waterloo, onde acaba preso como espião. Ao retornar à Itália, reencontra sua apaixonada tia, duquesa Sanseverina, agora amante do importante Conde Mosca, ministro do príncipe de Parma. Temos uma sequência de lutas, fugas, prisões, intrigas, paixões arrebatadoras e conspirações de bastidores. O personagem de Fabrício faz eco ao jovem Julien Sorel, o protagonista de Stendhal no seu romance anterior O Vermelho e o Negro.


2 - A MARCA HUMANA – De Phillip Roth – Meu 5º livro do autor judeu americano e que está empatado em qualidade com os outros livros dele que li: O Complexo de Portnoy, Complô Contra a América, Adeus Columbus e O Teatro de Sabbath. Coleman Silk é um professor acusado injustamente de racismo.  Ele ensina grego e latim e é reitor de uma faculdade em que angariou inimigos por ter mudado privilégios acadêmicos. Roth debate questões candentes como o politicamente correto, o identitarismo e a hipocrisia social. Esse livro integra a série sobre a América com a participação de um personagem recorrente nas obras de Roth; Nathan Zuckerman, espécie de alter ego do autor. O enredo faz eco com as tragédias gregas, bem ao estilo das obras ensinadas pelo personagem principal. Virou filme com Antony Hopkins, Nicole Kidman e Ed Harris no elenco.

3 - ALEXANDRE E CESAR – De Plutarco – É um privilégio poder ler esta obra escrita pelo filósofo Plutarco, que viveu no Século I em Roma e que se celebrizou pelas suas obras “Vidas Paralelas”, uma série de biografias de cidadãos ilustres. Aqui ele reúne a história de dois dos meus guerreiros e estadistas favoritos. Não houve propriamente nenhuma novidade já que eu já havia lido diversos livros sobre os dois líderes, mas nada se compara a ler algo de uma das suas fontes primárias. A edição que li está esgotada e, diferente das mais novas, é repleta de fotos e ilustrações.

4 - FUNDAÇÃO E TERRA – De Isaac Asimov – Finalmente, consegui terminar a arrastada segunda série da Fundação, composta de 4 livros. Diferente da trilogia original que recebeu inúmeros prêmios, esta segunda série me soou excessivamente supervalorizada. O autor não consegue ter um bom domínio dos diálogos que são longos, redundantes e reiterativos e tampouco consegue fazer uma boa construção de personagens que soam esquemáticos e insuportavelmente chatos. Completei com esse livro minha 10ª leitura do autor e não sei muito bem se vou dar conta de ler uma fração das suas inúmeras obras. Recentemente li uma entrevista da filha de Asimov em que ela elogia a adaptação da obra para o streaming e reconhece a dificuldade do pai em construir bons diálogos e desenvolvimento dos personagens

5 - JUDAS, O OBSCURO – De Thomas Hardy – Este foi o primeiro livro que li do autor, considerado ao lado de Charles Dickens, Oscar Wilde, as irmãs Bronte e Jane Austen como os mais representativos daquele período na literatura. Um dos livros mais tristes, sombrios e pessimistas que já li e que talvez contenha a cena mais horrível que sequer imaginei envolvendo duas crianças pequenas e um bebê. Foi o último romance escrito pelo autor. Em razão do seu tom antireligioso e contrário às instituições de ensino inglesas, ele recebeu tantas e tão pesadas críticas que fizeram com que Hardy nunca mais escrevesse mais nada além de poesias. Charles Dickens declarava sobre o período vitoriano: “Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos. Foi a idade da sabedoria, foi a idade da tolice. Foi a época da fé, foi a época da incredulidade. Foi a estação da luz, foi a estação das trevas. Foi a primavera da esperança, foi o inverno do desespero. Tínhamos tudo diante de nós, não havia nada antes de nós. Todos íamos direto para o céu, todos íamos direto para o outro lado.”

6 -  POIROT SEMPRE ESPERA E OUTRAS HISTÓRIAS – De Agatha Christie – Nenhum autor me fez ler mais livros do que a Dama do Crime Agatha Christie. Já devorei mais de 50 das suas obras que chegam perto de 100 romances, contos e peças de teatro. Aqui são 7 contos, um deles com a amada detetive Miss Marple (Santuário) e três contos com o famoso Hercule Poirot (A Segunda Batida do Gongo, Um Mistério da Arca de Bagdá e Poirot Sempre Espera). Os três outros contos são: A Boneca da Modista, com uma pegada sobrenatural envolvendo a possível bisavó da famosa Anabelle; Através de um Espelho Sombrio, também com um quê de mistério paranormal e Onde Há um Testamento, conto excelente em que um sobrinho forja a visita de um tio morto para precipitar a morte da tia pra herdar sua fortuna.

7 - TUDO É EVENTUAL – De Stephen King – Este foi o 46º livro que li do mestre do terror Stephen King. O volume traz 14 contos do autor com breves textos introdutórios onde ele explica as motivações para cada conto. Em Sala de Autópsia temos o puro suco de King quando um paciente com corpo paralisado mas a mente alerta, percebe que passará por uma autópsia iminente; Em O Homem do Terno Preto acompanhamos o encontro terrível de uma criança com uma espécie de demônio. Confesso que não me arrepio fácil, mas aqui não pude evitar.  Tudo Que Você Ama lhe Será Arrebatado não é um conto de terror, mas aquele King alternativo que os fãs adoram. Na Câmara da Morte há um suspense com ótima reviravolta com muita violência física e psicológica que é do jeito que gosto de King. As Irmãzinhas de Elúria são um presente para quem é órfão da série A Torre Negra e do saudoso pistoleiro Roland Deschain. Há ainda o conto que dá título ao livro, e também 1.408, que já foi adaptado para o cinema, Andando na Bala, sombria história de um jovem que para visitar a mãe à beira da morte pega carona com um motorista sinistro, Moeda da Sorte sobre uma camareira que encontra uma moeda mágica além do ótimo O Vírus da Estrada Segue Para o Norte entre outros.

8-OS 50 MEHORES CONTOS DE TCHEKHOV – Organização de Beneh Carvalho. Esta edição não está à venda e a li baixando o arquivo de um site independente. O organizador coletou os contos de Tchekhov impressos originalmente e separadamente em jornais e revistas e em outras publicações. Trata-se de um trabalho excepcional com 845 páginas e que dá ao leitor o privilégio de ler num só volume 50 dos melhores contos do mestre russo das narrativas curtas. Entre eles, alguns maiores, quase novelas, que eu já havia lido anteriormente em publicações individuais ou em outras coletâneas como A Dama do Cachorrinho, O Monge Negro, O Bilhete de Loteria e A Estepe. Os demais contos eu não conhecia ainda e são o melhor que há do mestre do conto. 

6.6.24

OS 16 LIVROS LIDOS DE JANEIRO A MAIO DE 2024

 Há 6 anos, publico breves resenhas dos livros lidos e divido as postagens em três blocos. Aqui estão os 16 lidos de Janeiro a Maio deste ano. Esse número ficou na média dos lidos no mesmos cinco meses iniciais dos últimos anos (27 em 2019; 22 em 2020; 20 em 2021; 21 em 2022 e 14 em 2023)

1 - A ARMADURA DA LUZ – Quinto livro da série sobre Kingsbrigde de Ken Follet. Começa em 1770 na Inglaterra e gira em torno da invenção da máquina de fiar que cria um novo paradigma na indústria da tecelagem inglesa. Os livros do autor dessa série sempre abordam intrigas políticas, despotismo, amores impossíveis e empreendedorismo com muitas doses de informações históricas. Estamos no meio dos conflitos das guerras napoleônicas e o texto de Follet é impecável. Mesmo seguindo certa fórmula, como se viram nas obras anteriores, ele nunca é maçante ou cansativo

2 - A COR QUE CAIU DO CÉU Terceiro livro que leio do genial H.P. Lovecraft em que o autor, expoente máximo do chamado terror cósmico, explora o lado obscuro da mente humana envolvendo os personagens em pesadelos. Os contos fascinam e assustam o leitor sempre levando seus personagens ao limite da loucura.

3 – I-JUCA PIRAMA - Obra prima do brasileiro Gonçalves Dias, um longuíssimo poema épico-dramático em que acompanhamos a luta do Timbira  I-Juca Pirama frente a seu pai e sua tribo pela sua recuperação moral. Ao fugir da morte para tentar cuidar do pai velho e cego, I-Juca Pirama, precisa recuperar a fama de herói, daquele "que é digno da própria morte"

4 – O AVESSO DA PELERomance do brasileiro Jefferson Tenório, vencedor do prestigioso prêmio Jabuti, que aborda questões profundas sobre identidade e as complexas relações raciais, violência e negritude. História de Pedro, que, após a morte do pai, sai em busca de resgatar o passado da família e refazer os caminhos paternos. O livro foi alvo de muita polêmica há alguns meses por conta da tentativa de secretarias de educação de estados comandados por governos de direita de censurarem a obra sob falsa alegação de pornografia.

5- O CHAMADO DA FLORESTA – Este foi o primeiro livro que li do autor Jack London que narra as desventuras do cão Buck, roubado da sua gentil família e contrabandeado para o Alasca no meio da febre do ouro. Sofrendo uma série de maus tratos até encontrar refúgio em uma irmandade de cães até se adaptar à vida selvagem. Um livro belíssimo e em partes muito triste, sobre a jornada de autoconhecimento.

 

6 – O DESERTO DOS TÁRTAROS – Esta obra-prima de Dino Buzzati consagrou o autor entre os grandes nomes da literatura italiana e eleito como um dos melhores livros do século XX. História do jovem tenente Giovanni Drogo, que recebe com alegria uma missão no forte Bastiani onde não pretendia ficar por muito tempo, mas se dá conta de que os anos se passaram enquanto alimentava a expectativa de uma invasão estrangeira que nunca acontece. A espera pelo inimigo transforma-se na espera por uma razão de viver, na renúncia da juventude e na mistura de fantasia e realidade.

7- RELATO DE UM CERTO ORIENTE Terceiro livro que li do autor amazonense Milton Hatoun. Uma mulher retorna a Manaus após longa ausência desejando encontrar a matriarca de uma família libanesa há muito radicada ali. Recebeu em 1990 o Prêmio Jabuti de Melhor Romance

8- SOMBRAS DA NOITE- Livro de contos de Stephen King (meu 46º livro do autor) que reúne algumas de suas histórias mais inquietantes como Jerusalem's Lot, As Crianças do Milharal, Às Vezes Eles Voltam e O Bicho-Papão, algumas já adaptado para o cinema. Nas histórias desse livro temos todo tipo de criaturas da noite: vampiros, amantes demoníacos, uma coisa que vive dentro do armário, todo tipo de terrores diversos.

9-TODA LUZ QUE NÃO PODEMOS VER - Romance de Antony Doerr adaptado para uma minissérie que conta histórias paralelas sobre dois jovens: uma garota cega cujo pai é chaveiro de um museu de Paris e um menino órfão que vive num abrigo da Alemanha que se torna especialista de uma escola nazista. Ele recebe a missão de descobrir a fonte das transmissões de rádio responsáveis pela chegada dos Aliados na Normandia. Os caminhos dos dois jovens se cruzam enquanto tentam sobreviver à Segunda Guerra Mundial. Livro ganhador do Prêmio Pulitzer de Ficção 2015

10- UM LIVRO DOS DIASSegundo livro que li da escritora e cantora americana Patti Smith após o maravilhoso Só Garotos. O livro reúne postagens do seu cotidiano no Instagram, seguido por mais de um milhão de fãs, com uma página para cada dia do ano. Fotos da sua estante de livros, uma xícara de café, o chapéu do poeta Lawrence Ferlinghetti, o túmulo de Albert Camus, a cama de Virginia Woolf. “Estas são minhas flechas, apontando para o coração singelo das coisas. Cada uma delas unida a algumas palavras, oráculos soltos. Trezentos e sessenta e seis jeitos de dizer olá.”, diz a autora

11- ORGULHO E PRECONCEITO – Quarto romance de Jane Austen que li e como nos anteriores, se passa na Inglaterra rural do final do século XVIII. Aqui acompanhamos a vida da família Bennet e suas cinco filhas sendo a personagem mais importante Elizabeth, jovem inteligente e sagaz que tenta contornar com sabedoria as convenções sociais da época e as questões de casamento e da posição social na sociedade inglesa para encontrar o amor verdadeiro e realizar seus sonhos pessoais. Esse livro é considerado um dos maiores romances já escritos em língua inglesa.


12-CARROSSEL SOMBRIO Livro com 13 contos de Joe Hill sendo que dois deles escritos em parceria com seu pai Stephen King. Destaco os contos Devoluções Atrasadas e Campo do Medo, este último inclusive já adaptado para as telas, como muitos livros da dupla de pai e filho.

13-AMALDIÇOADORomance de Joe Hill publicado anteriormente com o título de O Pacto. Um jovem que após o estupro e a morte daquela que era o grande amor da sua vida, sendo ele o principal suspeito, acorda com um par de enormes chifres demoníacos crescendo em suas têmporas. Mas não bastasse isso, as pessoas começam a lhe revelar seus segredos mais inconfessáveis.

14-O CRIME DO PADRE AMARO - Terceiro livro que li de Eça de Queirós após O Primo Basílio e Os Maias. Uma das obras mais famosas do autor no mundo e muito polêmica pelo forte anticlericalismo, principalmente em um país como Portugal de 1875. O padre Amaro e a jovem Amélia vivem uma trágica história de amor em que a hipocrisia e a fé estão em estreita ligação


15-LIMITES DA FUNDAÇÃO - Continuação da saga de Isaac Asimov.  Quase quinhentos anos após as predições de Hari Seldon, a Primeira Fundação se tornou uma potência galáctica e ninguém questiona a inevitável ascensão de um novo Império.  Início de uma busca interplanetária que esconde grandes segredos e desafia a crença cega sobre os verdadeiros desígnios da Fundação.

16- ACHEI QUE MEU PAI FOSSE DEUS – Segundo livro que li de Paul Auster, autor que faleceu este ano. Coletânea de centenas de histórias reais escritas por pessoas de todos os Estados Unidos organizadas pelo autor. A ideia surgiu quando Auster foi convidado a fazer um programa de rádio mas em vez de escrever as histórias, ele pediu aos ouvintes que mandassem as suas. Diante da riqueza do material e da impossibilidade de ler todos os textos no rádio, Auster decidiu publicar um livro com as mais de cem melhores histórias.