10.4.12
O Último Dançarino de Mao
12.3.12
Shame

10.3.12
Tom Boy
Para quem não sabe, Tom Boy é uma expressão em inglês que pode ser usada para ambos os sexos e que seria como moleque/moleca.
À Beira do Abismo
Este filme já saiu de cartaz mas deve estar nas locadoras. Gosto de filmes que envolvem alguma conspiração e que vai se desenvolvendo aos poucos, mesmo tendo um final que a gente já imagina qual é. Dá gosto ver a história ser delineada com algum cuidado e a trama sendo tecida. Não é um filme excepcional, mas vale para passar o tempo. Não é uma obra prima, mas em compensação, não faz feio.
Sam Worthington (de Avatar e Fúria de Titãs) faz o policial Nick Cassidy, que cumpre pena de prisão após ser envolvido em uma arapuca. Ao conseguir escapar por meio de um artifício, encontra um jeito bem original de provar sua inocência. Dependurando-se no peitoril de um prédio em pleno centro de Nova Yorque e atraindo a atenção da mídia e da própria polícia.
Jamie Bell (de Billy Elliot e Jump) faz o irmão mais novo que aproveita a atenção de todos para a ameaça de suicídio para completar o trabalho pretendido pela dupla. O vilão mor aqui é Ed Harris em uma interpretação correta, como é seu bom costume. A surpresa fica por conta da atriz Génesis Rodríguez no papel de uma ladra latina que tem momentos de bastante química e de algum humor com o namorado interpretado por Jamie Bell.
Aproveite para ver num dia em que não estiver a fim de pensar em muita coisa. Dá pra desfrutar. Muita gente da mídia falou mal, a crítica não perdoou, disse que o filme é repleto de clichês, mas eu até que gostei. Devia ser o que meu dia estava precisando.
7.3.12
Dois Coelhos
Não me lembro de ter visto um filme brasileiro tão cheio de tramas, reviravoltas, perseguições como este. E olhe que assisti a Tropa de Elite 1 e 2 e gostei muito das duas películas, mas aqui em Dois Coelhos o diretor Afonso Poyart, um estreante na tela grande, mas já parece um veterano, leva o filme na unha já que também é o produtor e fez a montagem.
O
filme tem um elenco muito bom com mérito de ser preparado pela já mítica Fátima
Toledo, polêmica preparadora de elenco responsável por extrair preciosidades de
atores em filmes como Tropa de Elite, Cidade de Deus, Céu de Suely, Cidade
Baixa, Central do Brasil e inúmeros outros.
Aqui talvez pelo dedo de Fátima Toledo, podemos ver o ator Fernando Alves Pinto, protagonista, sem as suas tradicionais afetações vistas em filmes anteriores como em Terra Estrangeira, Árido Movie, Nosso Lar e Tônica Dominante. Aqui o rapaz tá na rédea curta e isso é muito bom. Não aguentava mais seus trejeitos. Alguém precisava ensinar a ele que no cinema menos é mais.
O filme é uma pequena pérola, uma brisa refrescante no meio de uma produção nacional que parece mais feita para estudos acadêmicos ou para caçar níqueis, pois foi nisso que o cinema brasileiro se transformou com raras e honrosas exceções. Aqui vemos um roteiro complexo, uma narrativa bem feita que teria tudo para descambar numa mixórdia de explosões e tiroteios, mas tudo se explica no final, e para isso é bom prestar bastante atenção ao filme, pois a trama é complicada mas fascinante.
Parabéns extras à sonoplastia vibrante e à equipe de pós-produção que adiciona ao filme elementos gráficos que o associam à linguagem das pichações de rua, adequadas ao ritmo acelerado e ao universo marginal em que transitam os personagens. Impossível não lembrar bons momentos de filmes de Quentin Tarantino, Christopher Nolan e Guy Richie.
Um filme para espantar o sono.
22.2.12
Histórias Cruzadas

14.2.12
O Espião Que Sabia Demais

O Espião Que Sabia Demais é uma boa opção se você estiver com sono. Dá até pra roncar. Sinto uma grande pena em dizer isso desse filme. Sabe aquele tipo de filme que você queria muito gostar? Pegaram uma história de espionagem sobre guerra fria do magistral escritor John Le Carré; adicionaram um diretor que já mostrara ser um talento em ascensão como Tomas Alfredson (vide o seu filme cult sueco de vampiro Deixe Ela Entrar); acrescentaram um elenco de primeira a começar pelos sempre ótimos Gary Oldman, Colin Firth e Jonh Hurt…mas resulta num filme monótono, chatinho, excessivamente sombrio e arrastado. A trama de Le Carré é ótima nos seus best sellers, mas no cinema a massa desanda e vira um filme sobre um bando de burocratas matando, torturando e perseguindo uns aos outros.
Aqui, apesar de ótima reconstituição de cenários da época da Guerra Fria, temos uma overdose de elementos ingleses. Parece que o diretor quer em cada mínimo frame do filme nos lembrar que estamos na Inglaterra. Então não há um minuto sem uma xícara de chá, uma rua coberta de fog, sanduiches de pepino (“iguaria” favorita dos britânicos), alguém nadando num lago (passatempo inglês), papéis de parede florais, cães ingleses…fica over. Mesmo nas cenas filmadas em Budapeste e Istambul a gente sente que o diretor quer martelar na nossa cabeça que tudo tem que ter a cor do local.
Inegável, porém, o talento minimalista dos atores, mas o minimalismo pode ser demais até chegar a bons minutos em que um bom ronco não faz mal. Elogiável é a sequência final, em que tudo se explica — ufa, depois de duas horas já estava na hora —, ao som de La Mer, na voz de Julio Iglesias. Ah, e a trilha do filme está concorrendo ao Oscar. Esqueça se você acha Julio Iglesias brega. O homem arrebata com a canção originalmente gravada com uma batida jazzística em inglês com o título Beyond The Sea, usada à exaustão no cinema até na trilha de Procurando Nemo, mas aqui há um vivo frescor francês. Algo de sublime no meio de fog, críquete e sanduiche de pepino. Bons sonhos.
11.2.12
Um Conto Chinês
O cinema argentino virou uma unanimidade por todos os motivos e com todos os méritos, inclusive com Oscar e tudo. À parte o cartaz infeliz deste filme que mostra uma vaca e dá uma idéia errada de que se trata de uma comédia (deviam matar quem escolheu esse cartaz), o filme cumpre tudo aquilo que um bom filme argentino promete a começar pelo ator Ricardo Darín, presente em 9 de cada 10 produções dos nuestros hermanos portenhos (Abutres, O Filho da Noiva, O Segredo dos Seus Olhos, Clube da Lua, Nove Rainhas…)
8.2.12
Os Homens que Não Amavam as Mulheres

Não concordo com a opinião do crítico Thales de Menezes da Folha de São Paulo que diz que David Fincher melhora o livro que já era muito bom. Na verdade, como são duas linguagens narrativas diferentes (livro e filme), pode-se dizer que um é melhor ou pior do que o outro, mas nunca que um melhora o outro. Um filme não pode melhorar um livro. Nada pode, pois o livro é uma obra acabada e assim não pode ser melhorada ou piorada, não é como uma obra que está em construção ou que caiba reformas que a melhore.
Um dos pontos altos do filme é sua abertura espetacular. Nos meus muitos anos de cinéfilo não me lembro de uma abertura (enquanto aparecem os créditos) tão impactante e bem feita. Deveria haver um prêmio para a melhor abertura. Este filme levaria com louvor. Para quem leu os três livros ou viu o primeiro filme, esta versão é boa, mas não tem muito a acrescentar. O primeiro filme não era ruim, como diz o crítico da Folha chamando-o de “rascunho comparado à versão americana”. Tem gente que só valoriza o que vem de Hollywood.
Aliás, esse mesmo crítico acerta num ponto quando diz que a versão de Fincher perde para o original quando revela preocupação estética excessiva na brutal cena do estupro. A cena, na versão sueca, era crua e violenta. A americana, de tão plástica, parece mais uma cena de pornô soft.O filme americano muda o final do original. Para quem é fã da história de Stieg Larsson, fica um gosto meio amargo de um filme que tem um clímax e opta por terminar num anticlímax, com uma cena final chocha.
Os leitores da obra se apaixonam por Lisbeth apesar de ela levar a expressão anti-social ao seu paroxismo. Todos nós embarcamos na garupa da sua moto; nos angustiamos com as perseguições a que ela é submetida, exultamos quando ela consegue se vingar dos que a sacanearam e todos nos perguntamos se tudo valeu à pena, diante do seu sofrimento.
Essa crítica está parecendo mais literária que cinematográfica, mas isto é inevitável tratando de uma adaptação de um livro que é sucesso mundial. Aliás, deixo uma provocação. Cada volume (versão econômica) custa em torno de R$ 30,00 e encanta o leitor por semanas. Um ingresso de cinema custa em torno de R$ 10,00 e garante duas horas de encantamento.
Não dá pra ficar comparando né ?
20.1.12
Os Advogados do “Bom Gosto” Alheio

Todo ano é a mesma ladainha. Basta a Rede Globo estrear uma edição do Big Brother Brasil que logo começa uma campanha e uma feroz patrulha contra o programa e a emissora. Mas nunca vi a coisa ficar tão feroz como desta vez. As redes sociais estão pululando de gente ouriçada, todos loucos para opinar contra o BBB. São os advogados do bom gosto alheio.
E tome clichês como “atrofiar a mente”, “alienar”, “A intenção da Globo é nos emburrecer”, “zoológico humano”... É uma ladainha de lugares comuns.
O BBB, na sua essência, não difere dos outros inúmeros reality shows (há para todos os públicos). Mas os advogados do bom gosto alheio se atiçam especialmente pelo programa que é um tipo contemporâneo de dramaturgia. Você pode gostar ou detestar uma pintura, um romance, uma peça, uma novela, um samba ou um balé, mas não pode negar que todas essas expressões artísticas têm em comum os elementos básicos constitutivos de toda dramaturgia, elementos estabelecidos há centenas de anos por Aristóteles em sua “Retórica”: pathos, ethos e logos.
Pathos representa os elementos dos conflitos estabelecidos, as brigas, os amores, as intrigas; Ethos, a ideia de que o forte pode ser derrotado pela união dos fracos, o caráter das personagens, ou a possibilidade de o bem vencer o mal no final. Ou não. Logos é a narrativa midiatizada pela TV, a linguagem.
O BBB representa apenas um exemplo dos novos formatos que a cultura contemporânea encontrou para disseminar estruturas narrativas diferentes das então existentes. A evolução da tecnologia ao longo da história humana sempre modificou os padrões difusores da dramaturgia.
A se fiar nos contrários a novidades narrativas, nunca se teria escrito a Ilíada e a Odisséia, pois quando os aedos gregos, como Homero, narravam aqueles cantos, fiavam-se apenas na memória. Quando começaram a escrever as histórias, considerou-se um sacrilégio. Quando incorporaram ao teatro apetrechos técnicos que tiravam o foco da interpretação dos atores, inicialmente foi uma heresia, como a inclusão do som no cinema mudo...
Todas as mudanças introduzidas nas narrativas existentes sempre geraram estranhamento e críticas. E as críticas sempre vinham dos conservadores.
O que os advogados do bom gosto acham de tão diferente assim entre um BBB e uma novela ou um livro ou um filme? Não estou entrando no mérito da qualidade da obra, mas do formato delas. Vejamos:
1º) Todas tem um tipo qualquer de representação. O ator encarna um papel diferente de si próprio, um personagem. O BBB tem nisso uma grande jogada: o participante, que não é ator, representa a si próprio. Mas não pode ser 100% ele mesmo, pois as pessoas esperam uma mistura de realidade com show, buscam alguma centelha de encantamento. Essa dosagem misteriosa, esse ponto de equilíbrio delicadíssimo faz com que o participante agrade ou não ao público. Agrada mais aquele que, paradoxalmente, melhor finge o que realmente é. E o púbico é esperto. Assim como os participantes. No cinema/novela/teatro, o ator não pode ser ele mesmo sob pena de desagradar ao público e ser tido como canastrão.
2º) Todos os formatos dramatúrgicos envolvem algum tipo de dinheiro. Ou alguém acha que um escritor ou diretor ou roteirista escreve ou dirige por sacerdócio? O que incomoda tanto no fato de um participante do BBB ganhar 1 milhão? Muitos atores ganham isso. Aliás, isso é de uma falta de importância tão grande que atribuo as críticas focadas nesse aspecto do programa ao puro despeito ou inveja. Ou coisa pior, um elitismo disfarçado (só quem pode ganhar esse dinheiro é alguém que tenha estudado dramaturgia ou ralado na lida dos palcos e telas).
3º) Toda dramaturgia é um tanto de ilusão. Ninguém suporta excessos de realidade e ironicamente o reality show é uma realidade dourada. As festas são inclusões artificiais, a relações são profundas ou superficiais, há uma fachada que é evidenciada em cada aspecto, mas ao mesmo tempo busca seu disfarce. O paradoxo é fascinante. Cada um quer ganhar o prêmio máximo, quer ganhar a fama, a atenção, o carinho, o voto. É um simulacro da realidade, uma emulação dos conflitos da vida real maximizados e estimulados. O voyerismo é uma das condições da existência de qualquer obra de arte. Um exemplo disto está na célebre entrevista em que o diretor francês da nouvelle vague, François Truffaut, ídolo da esquerda, dá uma aula aos patéticos jornalistas americanos, explicando-lhes, e deixando-os de queixo caído, porque Janela Indiscreta, de Alfred Hitchcock, é uma obra prima.
4º) Toda história tem um autor-narrador. O BBB tem milhões. A história vai se desenvolvendo à medida em que os conflitos e alianças se estabelecem. A cada dia, a casa pode adquirir novo formato a depender das performances dos seus integrantes e do humor da audiência. Todo livro, novela, peça, música tem apenas os seus autores.
Cabe aos leitores, espectadores e ouvintes o papel passivo de desfrutar da obra ou não. No BBB estabelecesse uma cumplicidade e a plateia tem a sensação de que pode fazer a história adquirir um rumo ou outro. Uma dramaturgia sem texto, ou melhor, com uma infinidade de textos possíveis.
Acho um perigo quando começam a definir o que é de interesse público e o que não é. Acho muita arrogância de intelectual pretensioso criticar o que as pessoas gostam. Acho que o maior termômetro para saber se algo está agradando é a audiência. Vejo um vídeo disseminado pelos advogados do bom gosto alheio do artista plástico Antonio Veronese criticando o BBB a partir de uma matéria do jornal O Globo em cujo caderno cultural publicou quantas vezes as meninas se masturbaram dentro do programa. Para ele é inconcebível que o “país pare” para ver duas pessoas conversando abobrinhas na cozinha.
Ele diz ainda que o BBB idiotiza as pessoas, mas se esquece de que a tv aberta mesmo oferece programas de "qualidade" que não atraem a audiência, vide os índices da TV Cultura. As pessoas não se conformam em não assistir ao programa, elas querem que os outros também não assistam. Elas não se conformam em não gostar, incomodam-se que outros gostem. E usam essa desculpa esfarrapada de que não é do interesse público ou que não é de bom gosto. Ninguém está obrigando ninguém a assistir. Para isso existem controles remotos e a programação cult da TV Cultura.
A Rede Globo como as demais emissoras são empresas privadas e têm anunciantes. Assiste quem quer. O que não dá é para ficar impondo a vontade em nome de um bom gosto ou moralismo e querer que uma empresa privada faça o que os intelectuais boçais querem. E se os anunciantes querem pagar para aparecer no programa é porque dá lucro para eles. O governo não tem nada a ver com isso. Os intelectuais adoram se meter no gosto dos outros e quando não conseguem o que querem pedem a interferência do governo.
Acho isso tão perigoso que nem sei por onde começar a me preocupar. Só queria saber de início quem são os sabidos que vão escolher o que é adequado. Quem são esses inteligentes que vão dar os parâmetros do que é bom e o que não é. O mais democrático é que cada um escolha o que lhe convém. Não para os advogados do bom gosto alheio, eles sabem o que é bom para o povo. Para mim, só resta lembrar a advertência do robô de Perdidos No Espaço: “Perigo! Perigo!”.
Para moralistas contrários ao programa, o BBB deve se suspenso “em defesa da família brasileira” (juro que li esse argumento na internet). Então vemos uma aliança estranha, os moralistas, os esquerdistas e os intelectuais contra o programa da Rede Globo.
Para quem reclama de um programa exibir durante horas imagens banais de pessoas conversando abobrinhas, lembro que o pintor e cineasta underground americano, Andy Warhol, pai da pop art e ícone pós-moderno, exibiu, em 1963, o seu filme Sleep, que era simplesmente um plano-sequência de um homem dormindo por cinco horas e vinte minutos. Mais tarde, Warhol apresentou um plano-sequência de oito horas de filme. E Andy Warhol continua a ser considerado um gênio pelos intelectuais. Será que esse dois filmes seriam considerados adequado para o tal “povo” ?
Conversando com uma amiga ouço o seu comentário: “Não entendo como alguém inteligente como você pode gostar desse programa”. Explico minhas razões. Ela reage assim: “Mas isso o povo não sabe”. Eis o que esses advogados do bom gosto alheio pensam: Elas pensam que sabem o que é melhor para o povo.
19.1.12
Os Imortais

1.12.11
Por que não deixam os ateus em paz?

26.11.11
Os Amores Imaginários
A Pele que Habito

Balada do Amor e do Ódio

21.9.11
Melancolia e A Árvore da Vida


Sou fã dos dois diretores. De Lars Von Trier sou macaco de auditório, admirador de todos os seus filmes desde que fui apresentado, em 1991, à experiência única da sua película “Europa”. Não perdi uma única aventura do polêmico cineasta que este ano perdeu a Palma de Ouro de Cannes por conta de sua proverbial língua e do seu imensurável ego, quando bateu boca com jornalistas em torno de uma piada de péssimo gosto envolvendo nazismo. Em sua filmografia, há verdadeiras joias como Ondas do Destino, Os Idiotas, Dançando no Escuro, Dogville, Manderley e Anticristo. Esse longo parágrafo é para dizer como fiquei triste por não ter gostado de Melancolia.
Acontece que Melancolia é resultante de uma crise depressiva na vida do diretor. O crítico e psicanalista Contardo Calligaris escreveu na Folha de São Paulo que a personagem Justine, de Kirsten Dunst (a referência à heroína homônima do Marques de Sade não é à toa) sofre de um mal que transborda o próprio sentimento dos melancólicos. Estes, na sua tragédia pessoal, podem até querer acabar com a própria vida, mas nenhum deles concebe, como a Justine de Trier, o fim da “vida” em si. Da existência da espécie humana. E é isso que o diretor parece querer mostrar com o seu ego de um cinismo monumental. “Se não dou a mínima para a humanidade, essa que se exploda”. E para tal, o enorme planeta Melancolia fará o serviço sujo se chocando com a Terra, como um iceberg abalroando o Titanic, e levando embora, num apocalipse hiperbólico, desde Guantánamo até a Capela Sixtina, desde Bangu I e Angra II até o Santo Sudário e a Esfinge de Gizé.
Belas imagens, sem dúvida, abrem a película, como é do feitio do talento inquestionável do diretor dinamarquês. Belíssimos oito minutos de um lirismo tão lindo que quase dói: um comercial do apocalipse em slow motion, como aponta em brilhante artigo o crítico Antônio Gonçalves Filho no Estadão.
Já A Árvore da Vida levou a Palma de Ouro de Cannes, uma premiação bastante questionada pois, entre os críticos, diz-se que o filme não está à altura dos trabalhos anteriores de Malick, como Terra de Ninguém, Cinzas no Paraíso e Além da Linha Vermelha. Fui para sua pré-estreia na sessão para jornalistas no Multiplex.
Se fosse analisá-lo como um todo, diria que não gostei dele. Falo como uma obra integral, apesar de seus pontos positivos, como a excelente cenografia, belíssimas interpretações dos atores (Brad Pitt e Sean Penn sempre excelentes), trilha sonora e fotografias primorosas. Mas vejo isso como um exemplo de que o todo pode ser inferior à soma das partes.
Há alguns anos li um comentário jocoso a respeito do que definiria um “filme de arte”. Isso me pereceu, naquela época, uma gozação infeliz, mas hoje eu concordo com a frase que é a seguinte: “Filme de arte é aquele que acaba de repente!”.
Esse filme é exatamente isso. Em vários momentos, você percebe que ele pode acabar a qualquer momento que isso não faria a menor diferença. E, de fato, ele acaba numa cena igual a várias outras. Muito bonita, mas igual em beleza a todas as outras. Além disso, há muito de uma coisa que costuma se criticar em cinema que é a tal reiteração, aquela inclusão desnecessária de cenas que nada acrescentam ao enredo ou à trama, mas apenas repetem o que já foi dito ou mostrado. Além disso, há uma irritante narrativa sussurrante. Para narrar qualquer coisa tem que ser sussurrando? E o filme também pressupõe que você vá embarcar no questionamento espiritual que ele desenvolve (desenvolve?) sobre Graça e Natureza, a primeira compreendida no sentido filosófico cristão.
A história não é amarrada, mas entremeada de inúmeras cenas plasticamente bonitas e que caberiam melhor em um documentário do National Geographic, imagens grandiloqüentes, do Big Bang, à criação do universo, das águas-vivas, dos dinossauros....Tudo com uma música altíssima emoldurando cada cena com uma grandiosidade que se não era pretensiosa, chegava muito perto disso. O final, com todo mundo numa praia, vivos e mortos, me deixou constrangido pela pieguice e pela breguice.
O filósofo Luiz Felipe Pondé, na Bravo, analisa os dois filmes e identifica na Graça, o encanto e seu conceito, ao lado de Deus, uma das maiores criações da filosofia ocidental. A Graça seria generosa e dá vida enquanto a Natureza é egoísta e escrava da fisiologia. Essa premissa, que julgo algo rasteira, me obriga a me identificar com a crítica de Isabela Boscov na Veja: “O diretor não tem algo menos superficial do que essa dicotomia filosoficamente discutível entre a indiferença da natureza e a generosidade do espírito — como se a espiritualidade humana não fosse, ela própria uma resposta à violência casual da natureza”.
O crítico da Folha Inácio Araújo gostou. Para ele o filme é uma saga familiar contada de forma não-linear, por fragmentos ou estilhaços de vida que se projetam no tempo. Afirma ele: “Esse filme dispensa maior erudição ou esforço intelectual para ser compreendido: ter uma alma já basta”. Pergunto eu: ter compreendido significa ter gostado? Minha alma compreendeu o filme, apesar dos meus esforços intelectuais para não achá-lo pretensioso. Mas, por favor, não exija demais da minha alma.