19.7.13

A machodependência e a piriguetagem


Chamou-me a atenção, há alguns dias, uma matéria da Folha de São Paulo com o seguinte título: "Paulistanas reclamam da falta de homens na balada dispostos a um relacionamento sério”

O repórter relatava que o mulherio paulista estava carente e frustrado com a escassez do produto masculino pela selva de pedra da paulicéia desvairada. Várias moças foram ouvidas, assim como os seus possíveis “alvos” de cobiça: “os bofes” e a conclusão tirada é que as mulheres, ao trocarem o antigo papel de caça para o novo, de caçadora, perceberam que não foi uma mudança, digamos assim, muito proveitosa.

A macharia é um produto que anda em falta ou a lei de oferta e procura, mais uma vez, mostra sua validade também no mercado das relações humanas devido à disseminação da piriguetagem? A concorrência anda braba nas hostes femininas.

Mas uma das coisas que mais me chamaram a atenção é que a maioria das mulheres reclama da falta de homem justamente nas baladas, detalhe: homem para relacionamento sério! Repetindo: relacionamento sério na balada!!!

Fico a me perguntar se isso não é uma contradição entre termos. Seria como procurar um tricolor no meio da torcida do Vitória ou vasculhar num grupo de petistas algum que não seja fã da Carta Capital. Mais fácil cavar um poço num deserto.

A Folha diz tudo: “Do clube moderninho ao boteco no centro, a noite paulistana não é mais terreno fértil para encontrar "bofes" com pretensões de engatar um relacionamento sério”.

Pelo censo de 2010 do IBGE, há quase 600 mil homens a menos em relação ao número de mulheres...e olhe que ainda há os gays, em torno de 10%, o que reduz ainda mais as chances do mulherio...sem contar os casados...a coisa começa a tomar contornos de drama porque homens morrem mais cedo do que mulheres por diversas razões genéticas, inclusive porque cuidam menos da saúde.

Quando começa a bater o desespero inicia-se também uma maior vulgarização das mulheres. Como muitas recorrem, por uma inclinação natural, à piriguetagem; as demais tendem a perceber aí uma espécie de nicho de mercado e acabam apelando, mesmo tangencialmente, ao mesmo recurso que já provou dar frutos e resultados.

A reportagem aborda um aspecto interessante. As mulheres se colocam como fáceis, modernas, dispostas a “ficar” sem compromisso e até abordam os homens, mas, com o tempo, voltam ao papel de mulher das antigas. Acontece que os homens sabem reconhecer a jogada e não caem fácil nessa estratégia.

A conquista da independência feminina, a liberdade que elas tanto buscaram é, finalmente, uma realidade. E elas estão aproveitando bem isso, se divertido a valer. Poucas assumem que não buscam de fato nada sério, mas esperam que os homens as vejam como caça enquanto elas agem do mesmo modo. Alguém vai perder nesse jogo.

A psicóloga Lúcia Petri afirma que a necessidade de encontrar alguém leva algumas mulheres a um comportamento desesperado, apressado, que, em muitas vezes, quebra o encanto e o desejo de um novo encontro. As mulheres reclamam de que ninguém quer nada sério, mas elas querem? Se querem, precisam repensar suas ações.

A vida real é uma selva brutal, uma luta bem distante, por exemplo, do idílio da canção "Futuros Amantes", de Chico Buarque que diz: "Não se afobe, não/ Que nada é pra já/ O amor não tem pressa/ Ele pode esperar em silêncio/ Num fundo de armário/Na posta-restante/Milênios, milênios/No ar..." Quem é que, nos tempos de hoje, pode esperar esse tempo todo por um futuro amante?

Depoimentos de três homens ouvidos pela Folha: Estudante de 24 anos: “As mulheres estão um pouco atiradas. Isso tira o barato. Fica fácil demais. Se foi assim comigo, imagina com os outros. Fora que tem muita mulher no mercado”. Gerente de restaurante de 32 anos: “Elas estão buscando algo sério em lugar errado. Quem está na noite só quer mesmo diversão. Eu mesmo estou fazendo test drive por aí”. Bartender de 31 anos: “Os homens estão com o pé atrás. Falta inteligência às mulheres. Geralmente elas só sabem falar de consumo. Ainda não conheci a mulher ideal”.

O psicólogo clinico Irineu Deliberalli, em seu blog questiona a máxima feminina de que faltam homens no mercado. Ele reflete que a maior independência financeira feminina que faz com que a mulher dirija a própria vida, também faz com que ela fique cada vez mais sozinha, principalmente as mulheres acima dos 35 anos e solteiras ou à procura de um segundo casamento e que têm boa condição profissional e financeira. Estas são as que mais reclamam.

A alma feminina sempre é mais sensível que a alma masculina. Assim são fabricados esses dois seres, com objetivos basicamente diferentes. Claro que ambos querem ser felizes e realizados, mas cada um busca isso ao seu modo. Atualmente, a realização pessoal e profissional das mulheres é importantíssima para ela e para sua família, mas isso cria um dilema.

Para Deliberalli, houve um pequeno desvio no roteiro feminino, em cumprir sua função específica junto à humanidade e este fator leva a mulher a ficar cada vez mais distante do seu ideal afetivo e do homem de maneira geral. A energia feminina é receptiva, acolhedora, é a que forma o lar, o interior, é o princípio passivo da vida. A energia masculina é o princípio ativo criativo que vai para fora em busca da criação e da conquista.

Mesmo sem abdicar da feminilidade, as mulheres ativas se aproximam do modelo masculino tradicional e agem como os homens sem se perceberem com tal energia masculinizada e não com a energia feminina. Fala-se aqui de energia e não de condição, preferência ou inclinação sexual.

As mulheres que reclamam que os homens só querem sexo e nada mais não percebem que esses homens fogem de mulheres fortes. O homem é um animal besta, que se sente frágil diante de uma mulher assertiva e decidida. Ao se sentir desejado, seu instinto é copular apenas. Isto fortalece seu padrão masculino de conquista. O instinto masculino de caçador não é atiçado para além do sexo. A mulher desafiadora, que merece ser conquistada, não é aquela que emula o papel masculino, mas a que estimula o instinto básico do homem como a fêmea que ele aprendeu a distinguir dos machos.

A antropóloga Mirian Goldenberg concorda. Ela diz que como há muito mais mulheres do que homens no mundo, elas devem buscar menos o príncipe encantado se quiserem encontrar um parceiro. "É contraditório, para não dizer pouco inteligente, que num mercado afetivo-sexual tão desfavorável elas exijam tanto", diz Goldenberg.

Ela lembra que antigamente o homem era o provedor, o protetor, o chefe de família e que hoje há vários modelos masculinos: o sensível, o delicado, o romântico, o vaidoso, o mais jovem, o que ganha menos e as mulheres exigem do homem coisas que não exigiam antes. Ele não tem que ser só o provedor bem-sucedido e poderoso. Também tem que cuidar do seu corpo, vestir-se bem, ser romântico, carinhoso. A mulher quer tudo isso numa só pessoa.

            Em Salvador parece que a coisa é ainda pior do que São Paulo. Aqui há 100 mulheres para cada 85,6 homens, na faixa de 20 a 39 anos. Isto coloca a capital baiana como a pior do país para se arranjar um companheiro para relacionamento sério.

Outro dia estava observando, na minha academia, o comportamento dos homens e das mulheres que a frequentam. O ambiente da academia é um excelente termômetro para análise de comportamento humano. Todos os homens ali estavam focados no objetivo de malharem e mesmo quando batiam papo com os amigos, o assunto das conversas costumava girar, pelo menos ali dentro, em torno dos próprios exercícios. Já as mulheres agiam de modo oposto, primeiro porque as mulheres conseguem, naturalmente, fazer várias coisas ao mesmo tempo, ao contrário dos homens. Pois eis que elas conseguem tomar cuidado para não estragar o esmalte nos halteres, ajeitar os mais diversos itens do vestuário para estarem sempre atraentes mesmo levemente suadas, falar várias vezes ao celular, selecionar a música que querem ouvir, checar a própria imagem nos inúmeros espelhos e, é claro, malhar. Tudo isso enquanto os olhinhos, devidamente retocados com rímel, rodam em busca da caça masculina que costuma estar concentrada na malhação.

Uma luta inglória....


3 comments:

Anonymous said...

Luiz, muito bem escrito,como sempre. Não sei porque, mas enquanto lia, vinha me ocorrendo numa espécie de brain storm a lembrança de Julia Roberts, em uma Linda Mulher, quando ela diz a frase célebre de que no fundo no fundo o que mulher quer é a alguém que cuide dela (+- assim). Ainda me lembrei de um artigo recente (e polêmico)de Luis Felipe Pondé, no qual ela desanca as feministas. Mais, ainda me veio à cabeça a frase típica (filme, até)"o que alguém como você faz num lugar como este?" , mas agora sendo dita pelas mulheres.

Sua abordagem foi precisa e traduz realmente o que acontece não com todas, mas com uma parcela considerável das mulheres das novas gerações.

Continue nos brindando.

Abraço,

Gilson

Unknown said...

Parabéns pelo artigo.Acho que a independência conquistada pelas mulheres afastou-a dos homens, principalmente porque os homens sempre esperam ser o dominante da relação afetiva.
Por lado. a balada não é o lugar mais adequado para encontrar alguém para um relacionamento sério.

Anonymous said...

Muito interessante você escrever sobre esse assunto, Lu. Pessoas como eu não distinguem o caráter de acordo com o ambiente - ou seja, eu não julgo um homem como "não interessado em algo sério" por estar em um bar, boate etc. Porém, acredito que seja este o caso de muitos e, sim, as mulheres atiradas realmente interferem negativamente no papel primordial do macho caçador.

Eu também sei que há homens que gostam de mulheres atiradas, mas, no fundo, a falta de sincronia entre homens e mulheres não vem apenas da desvirtuação desses papéis; vem mesmo de uma falta de compromisso de cada um até mesmo para consigo mesmo. Na minha opinião, isso de ficar sem querer nada sério é coisa de gente que tem medo de si e tem inúmeras questões mal resolvidas - talvez a principal delas o próprio medo da rejeição. Naturalmente, o interesse de um homem em uma mulher poderia evoluir para algo sério independente do contexto em que se encontram, então essa muralha de "nada sério" é artificial, defesa psicológica mesmo...

- Jamille